As Moedas de Réis (padrão mil-réis) da Era Vargas
Durante o período da Primeira República (1889-1930), houve um acordo informal no qual São Paulo e Minas Gerais se revezavam no poder, garantindo que a presidência da República fosse ocupada por representantes dessas oligarquias. Esse acordo ficou conhecido como Política do Café com Leite. O nome vem da principal atividade econômica de cada estado: São Paulo era o maior produtor de café, e Minas Gerais, o maior produtor de leite. Para manter o controle político, essas elites utilizavam práticas como fraude eleitoral, voto de cabresto e manipulação dos resultados por meio das "eleições a bico de pena", nas quais os votos eram frequentemente falsificados.
O sistema começou a se enfraquecer à medida que outras regiões do país passaram a contestar a concentração de poder nas mãos das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. A Crise de 1929 abalou fortemente a economia cafeeira, comprometendo a hegemonia paulista. A ruptura definitiva do pacto político ocorreu em 1930, quando o presidente Washington Luís, contrariando a alternância informal, indicou como sucessor Júlio Prestes, também paulista, em vez de apoiar um candidato mineiro, como era esperado.
João Pessoa, governador da Paraíba, foi candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas pela Aliança Liberal, que foi derrotada nas eleições de 1930 por Júlio Prestes, em um pleito amplamente denunciado como fraudulento. Após a derrota, a oposição intensificou suas críticas ao sistema eleitoral e utilizou o assassinato de João Pessoa cometido pelo advogado João Dantas, como catalisador político para justificar um levante armado. Embora o crime, cometido por João Dantas, tenha tido motivações pessoais, e não diretamente políticas. João Dantas foi um grande opositor das políticas de João Pessoa, e sua rixa pessoal com o governador, que envolvia questões políticas e um caso amoroso com a professora Anaíde Beiriz, foi um dos fatores que culminaram no assassinato de Dantas. A tensão aumentou quando João Pessoa mandou invadir o escritório de Dantas, buscando expor publicamente o envolvimento do jornalista com a professora. O crime, apesar de pessoal, foi rapidamente instrumentalizado pelos líderes da Aliança Liberal.
Getúlio Dorneles Vargas chegou ao poder à frente da Aliança Liberal através da Revolução de 1930. A aliança apoiada principalmente pelo Rio Grande do Sul, setores dissidentes de Minas Gerais e lideranças da Paraíba, por meio da revolução depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes. Esse movimento pôs fim à chamada Política do Café com Leite e marcou o encerramento da República Velha, dando início à Era Vargas.
Foto oficial de Getúlio Vargas no primeiro mandato como presidente do Brasil em 1930, (Fonte: Wikipedia, 2025).
Apesar da revolução de 1932 (movimento que ocorreu por quase três meses de conflitos armados, e é lembrado no feriado de 9 de julho em São Paulo), Getúlio Vargas continuou como chefe do "governo provisório" e em 1934 venceu as eleições contra Borges de Medeiros, mantendo-se no poder em virtude do golpe de 10 de novembro de 1937 (O que deu início à nossa primeira ditadura, marcando o começo do período do Estado Novo). O pretexto para o golpe foi a suposta descoberta do Plano Cohen, um documento forjado que alegava uma conspiração comunista para tomar o poder no Brasil. Utilizando essa ameaça como justificativa, Vargas decretou estado de guerra, fechou o Congresso Nacional e cancelou as eleições presidenciais de 1938 (A Constituição de 1934, criada após a revolução de 1932, previa uma nova eleição presidencial em 1938 sendo ela direta, no entanto, ela não chegou a ser realizada, devido ao golpe de estado em 1937).
De 1938 a 1945, Getúlio Vargas governou o Brasil sob a ditadura do Estado Novo. Esse período foi marcado por forte centralização do poder, censura à imprensa, repressão a opositores, e pela criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que consolidou direitos trabalhistas e reforçou a imagem de Vargas como "pai dos pobres". A industrialização também foi impulsionada, com destaque para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) viabilizada por acordos com os Estados Unidos no contexto da guerra e de outras estatais estratégicas. Em 1942, foi criada a moeda cruzeiro, substituindo o antigo réis, como parte de uma reforma monetária que buscava modernizar e simplificar o sistema econômico brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, apesar do caráter autoritário do regime, o Brasil rompeu relações com o Eixo em 1942, declarou guerra e enviou tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Itália em 1944, lutando ao lado dos Aliados, o que gerou contradições internas ao regime, já que combatia o fascismo no exterior enquanto mantinha uma ditadura no país.
Em 1945, sob crescente pressão de setores democráticos da sociedade como a União Nacional dos Estudantes (UNE), partidos políticos recém-criados, e parte das Forças Armadas. Vargas foi deposto em 29 de outubro por um movimento liderado pelos militares. Em seu lugar, assumiu interinamente o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, que chefiou um governo de transição até a realização de eleições presidenciais no final do mesmo ano.
As moedas do Cruzeiro da ERA Vargas podem ser conferidas no artigo As Moedas do Plano Cruzeiro.
Neste artigo, serão apresentadas as moedas de réis (padrão mil-reis) lançadas durante a Era Vargas, entre 1930 e 1942.
O IV CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA VILA DE SÃO VICENTE
As comemorações do IV Centenário da Capitania de São Vicente, realizadas entre janeiro e fevereiro de 1932, celebraram os 400 anos da fundação da primeira vila oficialmente estabelecida no Brasil por Martim Afonso de Sousa, marcando simbolicamente o início da colonização portuguesa. A extensa programação cívica, militar, cultural e numismática envolveu o governo federal, o Estado de São Paulo, as Forças Armadas, a Casa da Moeda do Brasil, a Sociedade Numismática Brasileira (SNB), instituições como o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e diversos agentes culturais, representando um momento de afirmação da identidade histórica paulista e do papel fundador de São Vicente na formação do Brasil.
No livro Diário da Navegação de Pedro Lopes de Souza pela costa do Brasil até o rio Uruguai (de 1330 [i.e. 1530] à 1532), publicado pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, é descrito o relato de Pedro Lopes irmão de Martim Afonso de Sousa, demonstrando o primeiro contato com a terra, os povos indígenas que ali habitavam e os trabalhos iniciais para a fundação da vila. Um trecho desse relato foi publicado na reportagem “A Capitania de São Vicente”, do Jornal do Commercio (RJ), em 22 de janeiro de 1932.
Trecho do diário de Pedro Lopes, Jornal do Commercio (RJ), em 22 de janeiro de 1932 (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
Durante as comemorações, foram emitidos selos, cunhados medalhas e moedas de circulação comum com a temática referente ao IV centenário da colonização do Brasil.
O
Decreto nº 21.358, de 4 de maio de 1932 Autorizou a cunhagem de moedas divisionárias de prata, cobre-alumínio e niquel, comemorativas do IV Centenário da Fundação do Município de S. Vicente, no Estado de S. Paulo, início da colonização do Brasil.
Art. 1º Fica o ministro da Fazenda autorizado a mandar cunhar na Casa da Moeda, moedas de prata, cobre-alumínio e niquel, comemorativas do IV, Centenário da Fundação do Município de São Vicente, no Estado de S. Paulo, inicio da colonização do Brasil.
Art. 2º As moedas de prata que se cunharem por força deste decreto terão o valor, peso, composição e módulo seguinte:
Valor em réis Peso em grs. Composição Módulo
Prata - 500
2$0 8,00 Cobre - 400 26 m/m
Niquel - 050
Zinco - 050
Parágrafo único. A tolerância para mais ou para menos no peso e na composição da liga dessas moedas será, respectivamente de 1º/00 e de 0,005.
Art. 3º A liga monetária das moedas de cobre-alumínio e de niquel, seu valor, peso e módulo e bem assim as tolerâncias permitidas serão os mesmos das atuais moedas dessa espécie.
Nota: As características às quais o art. 3º se refere podem ser conferidas nas moedas de 100, 200 e 400 réis, emitidas entre 1918 e 1935, ostentando a efígie de uma mulher personificando o Brasil (Deusa Ceres que foi utilizada remetendo à fertilidade e à base agrícola da economia). Essas moedas, assim como as de valor inferior (20 e 50 réis), serão mostradas posteriormente.
Art. 4º Nos modelos das moedas serão aproveitados os motivos sugeridos pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, sendo que os característicos de cada valor são os seguintes:
Nota: O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP, fundado em 1894, tem como objetivo, marcar a relevância do Estado de São Paulo na produção de cultura e valores históricos no país.
2$0 - Anverso - Efígie de D. João III.
Reverso - Brasão real.
1$0 - Anverso - Efígie de Martim Afonso de Souza.
Reverso - Brasão de Martim Afonso de Zouza.
$5 - Anverso - Efígie de João Romalho.
Reverso - Gibão de armas bandeirante.
$4 - Anverso - Brasil dividido pelo meridiano de Tordesilhas.
Reverso - Cruz da Ordem de Cristo.
$2 - Anverso - Esfera armilar.
Reverso - Uma caravela.
$1 - Anverso - Efígie do cacique Tibiriçá.
Reverso - Panóplia indígena.
Nos anversos das moedas de 2$0, 1$0, $5, $4, e $1, se lê : "IV Centenário da colonização do Brasil, 1532-1932" e nos reversos o valor expresso em réis.
No anverso da moeda de 12 se lê apenas : "IV Centenário da colonização do Brasil", sem a era, que figura no reverso, acima do valor.
Art. 5º O poder liberatório das moedas de que trata o art. 1º, será, salvo mútuo consentimento das partes, respectivamente de 40$0, 20$0 e 4$0, para as de prata, cobre-alumínio e niquel.
Art. 6º O Governo aplicará, na cunhagem das moedas de prata, a prata existente na Casa da Moeda e com o produto da mesma e por meio de operações de crédito, adquirirá mais prata em barras ou em moedas dos títulos de 917 e 900, de acordo com a cotação mensalmente fixada por aquela repartição.
Art. 7º A cunhagem das moedas em apreço ficará limitada ao ano de 1932 e nas quantidades reclamadas pela sua normal circulação.
A reportagem "As Moedas Vicentinas" de 9 de outubro de 1932 do jornal Correio da Manhã apresenta o lançamento das moedas vicentinas.
Lançamento das Moedas Vicentinas, Jornal Correio da Manhã de 9 de outubro de 1932 (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
A reportagem "As Moedas Vicentinas – Sua Significação", publicada pelo Jornal do Commercio (RJ) em 30 de outubro de 1932, destacava a imensa procura pelas caixinhas de madeira estampadas que continham a coleção das moedas vicentinas, comercializadas pela Casa da Moeda.
Moedas Vicentinas – Sua Significação, Jornal do Commercio (RJ) em 30 de outubro de 1932. (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
Nota: No artigo "O Estojo Vicentino", de autoria de Emerson Pippi, membro da Associação Numismática Paranaense, publicado no site Colégio da Numismática em 2016, é mencionado que, segundo o renomado catálogo de Kurt Prober (3ª edição, 1981), foram produzidos e oficialmente lançados pela Casa da Moeda do Brasil 214 estojos contendo a série completa das moedas vicentinas de 1932. O artigo também indica que existem duas versões das caixas que, atualmente, são reconhecidas como originais.
A reportagem “As Moedas Vicentinas – Sua Significação” também apresenta as explicações do então diretor da Casa da Moeda, Sr. Mansueto Bernardi, sobre os motivos que ilustraram as moedas vicentinas.
Moedas Vicentinas – Sua Significação, Jornal do Commercio (RJ) em 30 de outubro de 1932. (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
Em complemento a este artigo, podemos acrescentar mais informações sobre as representações, as personalidades e os símbolos históricos utilizados na temática vicentina.
O Tratado de Tordesilhas
Iniciando pelo Tratado de Tordesilhas, cuja representação simbólica aparece no anverso da moeda de 400 réis, o acordo foi assinado em 7 de junho de 1494 na cidade espanhola de Tordesilhas, entre os reis Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela (pelos domínios espanhóis) e D. João II de Portugal, com o objetivo de dividir as terras recém-descobertas fora da Europa.
No final do século XV, esses dois reinos se destacavam como as principais potências marítimas, liderando a expansão ultramarina em busca de novas rotas comerciais. Em 1492, Cristóvão Colombo, navegando a serviço da Coroa de Castela, chegou a terras até então desconhecidas pelos europeus, hoje parte das Américas e as reivindicou para os monarcas castelhanos (futuros unificadores da monarquia espanhola). A descoberta gerou tensões com Portugal, que já explorava rotas pela costa africana e desejava garantir seus direitos sobre futuros territórios.
Nota: Embora Isabel de Castela e Fernando de Aragão tenham governado de forma conjunta após 1479, a unificação política do que viria a ser o Reino da Espanha só ocorreu de fato no início do século XVIII, com os Decretos de Nova Planta.
Para evitar um conflito diplomático, os dois reinos católicos recorreram à mediação do papa Alexandre VI (Rodrigo Bórgia), de origem espanhola, que em 1493 emitiu a Bula Inter Coetera, estabelecendo uma linha de demarcação a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, o que favorecia os interesses espanhóis. Portugal, insatisfeito com essa delimitação, pressionou por uma nova negociação. O resultado foi o Tratado de Tordesilhas, que deslocou essa linha para 370 léguas a oeste de Cabo Verde, atribuindo a Portugal as terras a leste da linha e à Espanha as terras a oeste.
Nota: No contexto tanto da Bula Inter Coetera quanto do Tratado de Tordesilhas, a légua era uma medida náutica estimada em cerca de 5.556 metros. À época, não existia uma légua "internacional" padronizada, tampouco havia precisão geográfica suficiente para traçá-la no mapa com exatidão. No entanto, podemos estimar que, no século XV, Portugal utilizava a légua portuguesa, conhecida como "légua de 20 ao grau", ou seja, a circunferência da Terra era dividida em 360 graus, com cada grau correspondendo a 20 léguas máritimas. Assim seriam necessárias aproximadamente 7.200 (360 × 20) léguas para dar a volta ao mundo .
Nessa convenção, 1 légua portuguesa equivalia a cerca de 3 milhas náuticas, sendo que 1 milha náutica correspondia a 1,852 km. Portanto, 1 légua portuguesa correspondia aproximadamente a 5,556 km (3 × 1,852 km).
Com base nesse valor, 370 léguas portuguesas correspondem a cerca de 2.055,72 km (5,556km x 370). Considerando uma estimativa de cerca de 40.000 km para a circunferência da Terra ao longo da linha do Equador, valor calculado por Eratóstenes no século III a.C. e adotado posteriormente por navegadores portugueses, para converter essa distância em graus de longitude na linha do Equador, usamos o fato de que, nessa região, 1 grau de longitude equivale a aproximadamente 111,32 km (40000 /360) . Dividindo a distância total (de 370 léguas) pela extensão de um grau: 2.055,72 (km) / 111,32 (km/grau) = ~18,47 graus.
Ou seja, a linha de Tordesilhas situava-se 18,47° a oeste do ponto de referência. Considerando a Ilha de Santo Antão, a mais ocidental do arquipélago de Cabo Verde, situada por volta dos 25° de longitude oeste, somamos esse deslocamento: 25°+18,47°=43,47° de longitude oeste.
Essa longitude coincide com a localização estimada da linha de Tordesilhas, refletindo a divisão acordada entre Portugal e Espanha no tratado, que segundo diferentes cálculos históricos, corresponde aproximadamente à faixa entre 42° e 46°30′ (dependendo de quem era favorecido na época) de longitude oeste , atravessando o território do atual Brasil.
Seja por precaução estratégica ou como especulam alguns historiadores, por indícios prévios de terras desconhecidas no Atlântico Sul, a descoberta oficial do Brasil em 1500 revelou que a alteração da linha de Tordesilhas, em 1494, foi uma manobra geopolítica visionária por parte de Portugal.
Outras potências marítimas europeias, como França, Inglaterra e Países Baixos, não reconheceram a legitimidade do Tratado de Tordesilhas e passaram a contestar a exclusividade da partilha do mundo entre Portugal e Espanha. O rei Francisco I da França chegou a ironizar a situação, perguntando onde estava a cláusula no "testamento de Adão" que autorizava tal divisão. Já em 1531, a Coroa portuguesa tinha conhecimento de embarcações francesas rondando a costa brasileira, mas incursões e comércio clandestino promovidos por franceses, ingleses e outros europeus já ocorriam de forma irregular desde o início do século XVI, estabelecendo alianças com populações indígenas e desafiando o domínio português. Piratas, contrabandistas e corsários, estes últimos agindo com autorização oficial de suas coroas, especialmente franceses oriundos de portos como Honfleur, Ruão e La Rochelle, exploravam o pau-brasil e até fundavam feitorias. Um dos mais célebres foi o armador Jean Ango, de Dieppe.
O Tratado de Tordesilhas perdeu força no século XVII, especialmente após a União Ibérica (1580–1640), quando Portugal e Espanha estiveram sob o mesmo rei. Mais tarde, novos acordos, como o Tratado de Madri (1750), redefiniram as fronteiras coloniais.
Em 1574, o cartógrafo Luís Teixeira produziu um mapa que representou os territórios portugueses na América do Sul com base nos limites definidos pelo Tratado de Tordesilhas. Reconhecido como um dos principais cartógrafos da Casa da Índia, Teixeira detalha no documento o litoral brasileiro desde o Maranhão até o Rio da Prata, evidenciando a expansão territorial portuguesa além da linha divisória estabelecida pelo tratado. Além das delimitações do Tratado de Tordesilhas, é possível observar as capitanias hereditárias instituídas a partir de 1534, durante o reinado de D. João III, que demonstrava uma divisão administrativa que buscava organizar e colonizar o território por meio da distribuição de grandes faixas de terra a donatários responsáveis pelo seu desenvolvimento.
Mapa do Brasil de Luis Teixeira de 1574 (original na Biblioteca da Ajuda, Lisboa). (Fonte: museudetopografia.ufrgs.br, 2025)
A Cruz de Cristo e a Esfera Armilar
Tanto a esfera armilar do anverso da moeda de 200 réis quanto a cruz da Ordem de Cristo, visível na moeda de 400 réis, estiveram sempre presentes nas primeiras bandeiras do Brasil, simbolizando a ligação com a monarquia portuguesa e a herança cristã do período colonial.
A primeira bandeira hasteada em solo brasileiro, exibia a cruz da Ordem de Cristo e foi erguida durante a celebração da primeira missa no Brasil, em 26 de abril de 1500 (conforme relatado por Pero Vaz de Caminha), na praia da atual cidade de Porto Seguro, marcando simbolicamente a tomada de posse das novas terras em nome do rei de Portugal, Dom Manuel I.
Bandeira da Ordem da Cruz de Cristo (Fonte: Wikipedia, licenciado sob CC BY-SA 3.0, 2025)
A Ordem de Cristo, da qual o Infante Dom Henrique foi Grão-Mestre, teve papel fundamental no financiamento das grandes navegações portuguesas, especialmente no século XV. Os territórios descobertos eram considerados propriedade da Coroa portuguesa, cuja legitimidade era reforçada pela missão de expansão do Cristianismo.
A Cruz da Ordem de Cristo é um dos símbolos mais marcantes da história de Portugal, tendo desempenhado papel fundamental durante o período das Grandes Navegações. A Ordem de Cristo foi criada em 1319, com autorização papal, como sucessora da extinta Ordem dos Templários em território português. Sob a proteção da Coroa, especialmente durante os reinados de D. Dinis e D. Manuel I, a ordem passou a ter grande influência política, econômica e religiosa.
A cruz vermelha de braços largos e bordas alargadas tornou-se o emblema da Ordem de Cristo e foi usada nas velas das caravelas portuguesas a partir do século XV, simbolizando não apenas o cristianismo, mas também o patrocínio real às expedições marítimas, associada à fé, conquista e expansão do Império Português.
A esfera armilar, composta por anéis metálicos que representam os principais círculos celestes, foi amplamente utilizada como instrumento didático e, sobretudo, como símbolo dos navegadores portugueses durante a Era dos Descobrimentos. Com origem antiga, havendo registros de modelos anteriores aos primeiros astrolábios (instrumento essencial da navegação, que foi posteriormente aperfeiçoado por estudiosos árabes, como Mariam al-Asṭurlābiyya) conhecidos, foi concebida como representação dos movimentos aparentes dos astros e sua invenção é tradicionalmente atribuída ao filósofo grego Anaximandro de Mileto (611–547 a.C.).
A esfera armilar representeou o conhecimento náutico, o poder ultramarino e a missão civilizatória da Coroa, sendo incorporada ao brasão pessoal de D. Manuel I e amplamente utilizada em moedas, mapas, monumentos e na arquitetura manuelina (como pode ser visto na Torre de Belém e no Mosteiro dos Jerónimos).
Quando a corte portuguesa, liderada pelo príncipe regente D. João (futuro D. João VI), transferiu-se para o Brasil em 1808, mudança motivada principalmente pelo receio de uma invasão de Portugal pelo exército de Napoleão Bonaparte, o símbolo foi mantido como emblema oficial do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815–1822). Após a Proclamação da Independência, a esfera armilar também foi incorporada à primeira bandeira do Império do Brasil, por ordem de D. Pedro I.
Nota: A esfera armilar já foi utilizada em outras bandeiras e símbolos, como a Bandeira do Principado do Brasil (1645–1816), e também em bandeiras portuguesas.
A Bandeira de Portugal, Brasil e Algarves
Por meio da,
Carta de Lei de 13 de Maio de 1816 o rei
D. João VI formalizou a elevação do Principado do Brasil à condição de Reino, consolidando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves; essa carta veio a complementar e regulamentar o decreto anterior da
Carta de lei de 16 de dezembro de 1815, com o objetivo de fortalecer a administração política e jurídica do Brasil, afirmar sua importância dentro do Império Português após a transferência da corte para o Rio de Janeiro, e garantir a soberania portuguesa diante das pressões internacionais da época.
Da Carta de lei de 1816 temos:
D. João por graça de deus, Rei do Reino Unido de Protugal, e do Brazil e Algarves, etc. Faço saber aos que a presente carta lei virem, que tendo sido servido unir os meus Reinos de Portugal Brazil e Algarves, para que juntos constituíssem, como efetivamente constituem um só e mesmo Reino, é regular e consequente o incorporar em um sí Escudo Real as Armas de todos os tres Reinos, assim, e da mesma forma, que o senhor Rei D. Affonso III, de gloriosa memoria, unindo outrora Reino dos Algarves ao de Portugal, uniu tambem as suas Armas respectivas: e ocorrendo que para este efeito o meu Reino do Brazil ainda não tam Armas que caracterizem a bem merecida preeminência a que me aprouve exalta-lo: Hei por bem, e me praz ordenar o seguinte.
I. Que o Reino do Brazil tenha por Armas uma esphera armillar de ouro em campo azul.
II. Que o escudo real Portugues, incripto na dita esphera armillar de ouro em campo azul, com uma Corôa sobreposta, fique sendo de hoje em diante as armas do Reino Unido de Portugal e do Brazil e Algarves, e das mais partes integrantes da minha Monarchia.
III. Que estas novas armas sejam por conseguinte as que uniformemente se hajam de empregar em todos os estandartes, bandeiras, sellos reaes e cunhos de moedas, assim como em tudo mais em que até agora se tenha feito uso das armas precedentes.
Assim, a bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, contendo o escudo real português sobre uma esfera armilar dourada em campo azul e encimada por uma coroa, era apresentada da seguinte forma:
Bandeira de Portugal, Brasil e Algarves (Fonte: sacescola.blogspot.com, 2025 )
Bandeira do Brasil Independente
A primeira bandeira do Brasil independente foi idealizada pelo artista francês Jean-Baptiste Debret, integrante da Missão Artística Francesa, e pode ter contado com a colaboração simbólica ou conceitual de Dom Pedro I, da Imperatriz Dona Leopoldina e do Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, este último retratado na obra intitulada José Bonifácio, a fundação da pátria brasileira, do pintor Eduardo de Sá, exposta na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Encomendada por ordem de D. Pedro I, então aclamado Imperador do Brasil, a bandeira incorporava tanto a cruz da Ordem de Cristo quanto a esfera armilar no centro do brasão imperial, simbolizando a continuidade da tradição marítima e religiosa portuguesa, bem como a legitimidade do novo império herdada da Casa de Bragança.
A primeira bandeira do Brasil independente, adotada em 1822 - ( Fonte: Wikipedia licenciado sob CC BY-SA 4.0 , 2025). O pavilhão nacional do Brasil independente apresenta, em campo verde, uma esfera armilar dourada atravessada por uma cruz vermelha da Ordem de Cristo, cercada por dezenove estrelas de prata dispostas em uma orla azul (Representando as 19 províncias do Brasil em 1822, eram: Alagoas, Bahia, Ceará, Cisplatina, Espírito Santo, Goiás, Grão-Pará, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. ), e encimada pela Coroa Real diamantina sobre o escudo, cujos lados são abraçados por dois ramos de café e tabaco, emblemas da riqueza comercial do país, representados em suas cores naturais e unidos, na parte inferior, por um laço com as cores da nação. A bandeira nacional foi descrita como “
composta de um paralelogramo verde, e nele inscrito um quadrilátero losangular cor de ouro, ficando no centro deste o Escudo das Armas do Brasil”, conforme estabelecido no
Decreto nº 3, de 18 de setembro de 1822.
Notas:
1- A Província Cisplatina, correspondente ao atual Uruguai, havia sido anexada ao Brasil em 1821 após campanhas militares e diplomáticas, e permaneceu sob controle brasileiro até sua separação definitiva em 1828, com a criação do Estado Oriental do Uruguai.
2- Algumas versões da bandeira imperial brasileira, inclusive aquela apresentada como um dos símbolos do império no site monarquia.org.br, exibem 20 estrelas. Uma hipótese é que a cidade do Rio de Janeiro estaria representada como Município Neutro, dado que ali residia a corte imperial. Contudo, esse argumento carece de fundamento histórico: o Rio de Janeiro foi oficialmente declarado Distrito Federal em 1834, com a promulgação do Ato Adicional à Constituição do Império, que desmembrou o município da província homônima, criando uma circunscrição administrativa diretamente subordinada ao governo central. Assim, a representação da bandeira brasileira do Brasil independente com 20 estrelas torna-se equivocada em relação ao ano de 1822. Lembrando que a província do Paraná só foi criada em 1853.
O Cacique Tibiriçá.
O cacique Tibiriçá, cuja efígie foi representada na moeda de 100 réis, era um importante líder indígena de origem tupi, estabelecido na aldeia de Inhapuambuçu, localizada na região do planalto de Piratininga, onde hoje se encontra a cidade de São Paulo. Teve um papel fundamental no início da colonização portuguesa no Brasil, especialmente na fundação da vila de São Paulo de Piratininga, em 1554, ao apoiar os jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. Defensor da vila, enfrentou, em 1562, um ataque de índios tupis, guaianás e carijós, liderados por seu sobrinho Jagoanharo, que tentou convencê-lo a se aliar aos tamoios. Tibiriçá recusou, avisou os jesuítas e, durante o combate, matou o sobrinho. Faleceu meses depois, em 25 de dezembro de 1562, em decorrência de uma enfermidade agravada pelo conflito. Seus restos foram enterrados na Igreja do Colégio de São Paulo de Piratininga, e hoje ele é considerado um dos fundadores simbólicos da cidade, sendo homenageado com ruas, praças e monumentos.
Cacique Tibiriça Obra que integra o acervo do Museu Paulista da Universidade São Paulo USP ( Fonte: Wikipedia licenciado sob CC BY-SA 4.0 , 2025)
João Ramalho
João Ramalho, cuja efígie foi representada na moeda de 500 réis, foi um dos primeiros colonizadores portugueses no Brasil, reconhecido por seu papel fundamental na fundação e no desenvolvimento da região que hoje corresponde à cidade de São Paulo. Nascido em Portugal no final do século XV, chegou ao Brasil no início do século XVI, por volta de 1510 tornou-se uma figura central na integração entre portugueses e indígenas, João Ramalho teve papel importante no processo que culminou na fundação da Vila de São Paulo de Piratininga, em 1554. Sua imagem simboliza tanto a mestiçagem cultural quanto o início da colonização efetiva do interior do Brasil. É comumente representado vestindo um gibão, casaco curto e ajustado, feito de tecido resistente, típico dos colonizadores e exploradores portugueses do século XVI, adequado às condições das viagens e da vida no sertão.
Nota: A associação de João Ramalho com bandeiras históricas, parece estar mais ligada a construções simbólicas e tradições regionais do que a evidências documentais concretas, sendo necessário recorrer a fontes primárias e estudos críticos para distinguir entre mito e realidade histórica.
João Ramalho Obra que integra o acervo do Museu Paulista da Universidade São Paulo USP ( Fonte: Wikipedia licenciado sob CC BY-SA 4.0 , 2025)
Martim Afonso de Souza
Martim Afonso de Sousa (1500–1571), cuja efígie é representada na moeda de 1000 réis, foi uma figura central no processo de colonização portuguesa na América, atuando como militar, administrador e explorador durante o reinado de D. João III. Sua trajetória ilustra a lógica do império português no século XVI, conectando frentes de expansão na Europa, América, África e Ásia, sob uma política centralizada da monarquia lusitana.
Nascido em uma família nobre portuguesa, Martim Afonso destacou-se inicialmente por seus serviços como militar e administrador na Índia Portuguesa. Em 1530, foi nomeado chefe da primeira expedição colonizadora oficial ao Brasil, com a missão de explorar e reconhecer o litoral, expulsar corsários franceses que atuavam na costa, iniciar o povoamento e implantar estruturas administrativas permanentes.
A expedição de Martim Afonso de Sousa chegou ao Brasil em 1531, percorrendo parte significativa do litoral atlântico, com o objetivo de combater invasores estrangeiros e reconhecer o território. Em 1532, fundou a Vila de São Vicente, considerada o primeiro núcleo urbano oficial da colonização portuguesa no Brasil. Nessa mesma época, incentivou o cultivo da cana-de-açúcar e estabeleceu estruturas administrativas que influenciaram, posteriormente, a adoção do sistema de capitanias hereditárias pela Coroa em 1534.
Após sua passagem pelo Brasil, Martim Afonso retornou a Portugal e, posteriormente, voltou a atuar no Oriente, sendo nomeado governador das Índias entre 1542 e 1545, onde teve papel relevante na administração e defesa dos domínios portugueses na Ásia.
Retrato de Martim Afonso de Sousa, pintura em oleo de José Wasth Rodrigues, 1932, Museu Paulista da Universidade São Paulo USP ( Fonte: Wikipedia licenciado sob CC BY-SA 4.0 , 2025)
Dom João III
Dom João III, o Piedoso (1502–1557), cuja efígie é representada na moeda de 2000 réis, foi o 15º rei de Portugal, reinando de 1521 até sua morte em 1557. Seu governo marcou um período de consolidação do império ultramarino português, especialmente no Oriente, na África e no Brasil. Profundamente ligado à fé católica, Dom João III promoveu a introdução da Inquisição em Portugal (1536), autorizada pelo papa Paulo III, e apoiou fortemente a atuação da Companhia de Jesus, que passou a ter papel central na educação e na evangelização dos territórios portugueses.
Dom João III ordenou, em 1530, a expedição de Martim Afonso de Sousa, que fundou a vila de São Vicente (1532) e deu início à colonização efetiva do Brasil com estruturas administrativas, cultivo da cana e uso de trabalho escravizado.
Inspirado no modelo administrativo utilizado pela Coroa portuguesa na Ilha da Madeira, o rei D. João III instituiu em 1534 o sistema de capitanias hereditárias no Brasil como forma de promover a ocupação, o povoamento e a defesa do território. Diante das dificuldades enfrentadas, foi criado em 1548 o Governo-Geral, centralizando a administração colonial.
Assim, o reinado de Dom João III representou uma fase de afirmação da presença portuguesa no Brasil, com a transição do modelo de exploração esporádica para um projeto de colonização permanente, no qual Martim Afonso de Sousa teve papel central, como braço executor das diretrizes régias.
Retrato de D. João III, Museu de São Roque, ( réplica do quadro de Flamengo Anthonis Moro, pintado em 1552) atribuído a Cristóvão Lopes ( Fonte: Wikipedia, 2025)
Os Brasões das armas da Família Sousa e do Rei Dom João III
Existem alguns manuscritos fundamentais para o estudo dos brasões portugueses, especialmente durante o período do reinado de D. João III, que são referência para a heráldica e a nobreza portuguesa. Entre eles, destaca-se o
Livro do Armeiro-Mor, atribuído a João do Cró (ou João du Cros), datado de 31 de dezembro de 1509, um códice iluminado que reúne uma vasta coleção de brasões da nobreza portuguesa, cuja precisão e riqueza iconográfica o tornam uma fonte essencial para entender a simbologia e a organização social da época. Esse livro foi encomendado por D. Manuel I, pai de D. João III, como um instrumento de registro e afirmação da nobreza no contexto da expansão ultramarina. Outro manuscrito importante é o
Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas, escrito por António Godinho, escrivão da câmara de D. João III, datado de 1º de janeiro de 1541. Este manuscrito iluminado detalha regras heráldicas e a genealogia das famílias nobres portuguesas, refletindo a preocupação do reinado de João III em organizar e regulamentar a nobreza e seus símbolos, fortalecendo assim a identidade e autoridade da monarquia portuguesa durante um período de grandes transformações políticas e territoriais.
Enquanto o Livro do Armeiro-Mor, elaborado no início do século XVI, foca na compilação visual e na catalogação dos brasões de famílias nobres portuguesas, funcionando como um registro heráldico ilustrado, o Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas, escrito por António Godinho em 1541, apresenta uma abordagem mais sistemática e normativa, detalhando as regras heráldicas, genealogias e a organização social da nobreza durante o reinado de D. João III, refletindo uma preocupação maior com a regulamentação e o aperfeiçoamento dos símbolos nobiliárquicos.
A essas duas obras soma-se o
Thesouro de Nobreza, publicado em 1675 por Francisco Coelho e considerado uma das mais extensas compilações genealógicas e heráldicas da nobreza portuguesa já produzidas. Diferente dos manuscritos anteriores, que pertencem ao período renascentista e refletem diretamente a organização nobiliárquica (relacionado à nobreza e aos seus direitos, estruturas e símbolos) dos séculos XV e XVI, o
Thesouro de Nobreza é uma obra de caráter enciclopédico, sistematizando brasões, linhagens e títulos nobiliárquicos com base em registros históricos, documentos e privilégios régios. Ele representa uma consolidação do saber heráldico acumulado ao longo de mais de um século e foi utilizado amplamente como fonte de consulta por genealogistas e estudiosos da nobreza lusitana nos séculos seguintes.
O Brasão da Família Sousa
Consultando as duas obras do século XVI, é possível verificar dois brasões para a família Sousa, mostrando ao lado esquerdo a versão do brasão referente ao Livro do Armeiro-Mor e ao lado direito a do Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas.

Brasões da família Sousa, segundos as referências, livro do Armeiro-Mor a esquerda e o livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas a direita (Fonte: https://archive.org/, 2025).
A complexidade da heráldica da família Sousa, uma das mais antigas e ramificadas de Portugal, manifesta-se claramente na análise de seus brasões. Nestas duas obras, observamos distintas representações armoriais, como o brasão intitulado "Sousa Chefe", são variações das armas dos Sousa Chefe, caracterizados pelo escudo em campo vermelho carregado com quatro flores-de-lis em forma de aspas, de prata (argente) dispostas em forma de cruz com escudetes das Quinas; o brasão da esquerda destaca-se por seu timbre, um elmo de ouro com paquifes (fitas decorativas que emergem do elmo sobre o escudo, e que se desdobram ao redor dele) vermelhos e prateados que (lembra um tipo de keffieh), enquanto o da direita além do elmo e as paquifes, apresenta na cimeira um castelo com três torres, elemento que pode simbolizar força, defesa ou dignidade.
Contudo, é fundamental compreender que essa representação não está necessariamente ligada ao brasão pessoal de Martim Afonso de Sousa. Isso ocorre porque os livros de armaria da época refletem as diferenciações heráldicas entre os múltiplos ramos da vasta família Sousa. Enquanto o 'Sousa Chefe' pertence aos Sousa de Calhariz (ou das Canárias), descendentes de D. Rui Vasques de Sousa, Martim Afonso de Sousa, por sua vez, era membro da linhagem dos 'Sousa do Prado', com ancestralidade direta de D. Martim Afonso Chichorro, filho bastardo de D. Afonso III, que deu origem a este ramo da família.
D. Martim Afonso Chichorro viveu no período de c. 1250 - c. 1313, inferior a publicação dos manuscritos Armeiro-mor e Nobreza e Perfeiçam das Armas. É provável que o brasão dos Sousa do Prado não apareça nas principais obras heráldicas desta época, porque essa linha específica da família Sousa, embora nobre, ainda não havia alcançado o destaque político e social que viria a ter nas décadas seguintes, especialmente com a ascensão de figuras como Martim Afonso de Sousa.
Além disso, a dificuldade em encontrar uma menção explícita no livro do Armeiro-Mor e no Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas pode ser atribuída a alguns fatores. Primeiramente, a organização desses livros que agrupavam brasões por famílias e ramos pode ter listado a diferenciação sem o nome completo do "Senhor do Prado" ou "Sousa do Prado". Embora a linhagem fosse nobre, sua máxima proeminência em alguns períodos pode não ter coincidido com o foco principal de compilação desses manuscritos. As variações inerentes a manuscritos medievais e renascentistas, copiados à mão, também podiam levar a pequenas omissões ou diferenças entre as versões. Outros fatores incluem a fluidez da heráldica em seu período inicial, onde nem todas as armas de ramos secundários eram imediatamente codificadas em todos os grandes armoriais nacionais, e o fato de que a consolidação definitiva de certas linhagens e seus brasões diferenciados por vezes só ocorreu com maior sistematização em nobiliários posteriores, como o Thesouro de Nobreza (1675) e a Provas da Historia genealogica da casa real portugueza (1739) de Dom António Caetano de Sousa. Este último, embora mencione brasões, tem como foco principal a genealogia da monarquia portuguesa, sendo seu objetivo registrar as linhagens e sucessões da Casa Real, e não a descrição heráldica em si.
Dessa forma, ao recorrer à obra Thesouro da Nobreza, conseguimos identificar o brasão atribuído a família de Martim Afonso, conforme ilustrado na figura abaixo.
Brasão da família Sousa Prado livro Thesouro de Nobreza (Fonte: archive.org, 2025)
Com a Inscrição Lateral: "SOVZAS descendentes de Dom Martim Afonso Chichorro filho bastardo do Rey Dº Aº 3º." Esta inscrição é crucial e valida a linhagem. D. Martim Afonso Chichorro é filho de D. Afonso III de Portugal e ancestral dos Sousa do Prado.
O brasão da linhagem "Sousa do Prado", é corretamente representado por um escudo esquartelado, exibindo nos 1º e 4º quartéis (superior esquerdo e inferior direito) um campo de prata com cinco escudetes de azul em cruz, cada um com cinco besantes de prata, e nos 2º e 3º quartéis (superior direito e inferior esquerdo), um campo de prata com um leão rampante de púrpura, sendo este mesmo leão o timbre que se eleva sobre o paquife.
A linhagem dos Sousa do Prado, à qual Martim Afonso de Sousa pertencia, remonta a D. Martim Afonso Chichorro, filho bastardo de D. Afonso III de Portugal, que, ao casar-se com D. Inês Lourenço de Sousa, iniciou uma sucessão que passou por D. Afonso de Sousa, D. Martim Afonso de Sousa (Senhor de Mortágua), D. Lopo Dias de Sousa (Mestre da Ordem de Cristo), D. Diogo Lopes de Sousa (Senhor do Prado), D. Gonçalo Mendes de Sousa e D. Lopo de Sousa (Senhor do Prado e Almoxarife-mor do Reino), culminando em D. Martim Afonso de Sousa (c. 1500 - 1564).
Na moeda de 1000 réis vicentina o brasão representado de Martim Afonso é baseado na seguinte ilustração, com pequenos detalhes diferenciados (na moeda o escudo é mais destacado com fundo listrado nos quadrantes dos leões, os detalhes no gorjal que protege o pescoço também são diferentes), este é o mesmo brasão que observamos no lado superior esquerdo do retrato de Martim Afonso, da pintura de José Wasth Rodrigues (mostrada acima).
Imagem Ilustrada do Brasão de Martim Afonso de Souza, utilizada como referência na moeda de 1000 réis vicentina públicada na Poliantéia Vicentina. (Fonte: novomilenio.inf.br , 2025).
*O livro A Poliantéia Vicentina – 450 Anos de Brasilidade, 1532-1982 (LICHTI, 1988) é um livro de história vicentina, que reúne vários historiadores e cita também alguns fatos históricos de Santos.
Ao observar esta ilustração do brasão, é possível identificar uma fusão entre o brasão dos 'Sousa do Prado' de Martim Afonso, apresentado no livro Thesouro da Nobreza e o brasão da família 'Sousa' apresentando no livro Nobreza e Perfeiçam das Armas, incluindo o escudo inclinado para a esquerda e o timbre, com elmo e as paquifes, e na cimeira o leão que se porta na posição de pé sobre as patas traseiras com as patas dianteiras levantadas e estendidas. Assim, este brasão, tal como representado na imagem, muito provavelmente tenha sido elaborado em um período mais recente, para uma criação da historiografia contemporânea, sem comprovação de uso na época de Martim Afonso de Sousa. Caso alguém possua alguma referência datada da época que comprove seu uso, por favor, não deixe de comentar.
O Brasão de D. João III
Voltando novamente ao manuscrito do livro do Armeiro-Mor, encontramos o brasão do Rei de Portugal, como visto abaixo.
Brasão do Rei de Portugal do livro do Ameiro-Mor (Fonte: archive.org, 2025)
O brasão real presente no Livro do Armeiro-Mor é apresentado inclinado para a destra (lado direito heráldico, correspondente ao lado esquerdo do observador). O escudo é de prata, com cinco quinas de azul em formato de cruz, cada uma contendo cinco besantes brancos dispostos em sautor (formando a cruz de Santo André, que, segundo a tradição, foi crucificado em uma cruz em formato diagonal, em Patras, na Grécia, no século I). As quinas simbolizam uma lenda segundo a qual cinco reis mouros foram derrotados por D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, ocorrida em 1139, enquanto os besantes representam as cinco chagas de Cristo, evocando a proteção divina e a legitimação religiosa da fundação do Reino de Portugal.
A bordadura vermelha que circunda o escudo contém oito castelos dourados, representando as fortalezas erguidas durante a longa Reconquista Cristã na Península Ibérica, processo que se estendeu do século VIII ao XIII. Esses castelos são tradicionalmente associados à conquista do Algarve, completada no reinado de D. Afonso III (1248–1279), simbolizando a defesa do território, a expansão do reino e a autoridade régia de Portugal. Além disso, acredita-se que o uso dos castelos tenha sido influenciado pelas torres douradas presentes no brasão do Reino de Castela, refletindo vínculos dinásticos e culturais entre os dois reinos ibéricos.
Sobre o elmo de ouro, voltado para a destra, repousa uma coroa real de ouro, complementada por paquifes em vermelho e prata, e abaixo, a inscrição "Rey d portvgall" identifica a soberania. O formato do escudo apresenta características típicas da época.
Esta é a ilustração do brasão que mais se aproxima daquele apresentado na moeda vicentina de 2.000 réis, atribuída ao brasão de D. João III.
Os livros Livro do Armeiro-Mor e Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas foram produzidos em períodos relativamente próximos. O primeiro foi elaborado durante o reinado de D. Manuel I (1495–1521), enquanto o segundo data do reinado de D. João III (1521–1557).
Dessa forma, para representar com maior fidelidade o brasão atribuído a D. João III, seria mais apropriado adotar como referência o Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas, produzido já durante o seu reinado. Nessa obra, o brasão do Rei de Portugal é ilustrado da seguinte forma:
Brasão do Rei de Portugal do livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas (Fonte: archive.org, 2025)
Neste brasão, mantém-se o escudo de prata com as quinas e castelos (embora com uma bordadura em formato diferente), apresentado em posição vertical. Destaca-se, porém, pela presença de uma cimeira composta por um dragão alado de ouro, cuspindo fogo, que emerge sobre uma coroa real de design ligeiramente distinto. Essa coroa repousa sobre um elmo de ouro voltado para a frente, encarando o observador. Os paquifes são mais elaborados, em vermelho e ouro, a inscrição "Rey d" encontra-se acima, e a inscrição "portvgal" figura na base.
As diferenças entre as duas representações do Brasão Real de Portugal são significativas e refletem não apenas as particularidades artísticas de cada manuscrito, mas também possíveis evoluções nas convenções heráldicas e na representação do brasão real ao longo do período em que foram lançados.
Em relação ao formato do escudo, cabe ainda destacar as distintas representações encontradas nas moedas cunhadas durante os reinados de D. Manuel I e D. João III, visto que a cunhagem monetária de cada monarca incorporava o formato do escudo predominante nas armas reais do seu tempo.
Na publicação Noções de Numismática Ibérica (III), de 1958. (revista de história da Universidade de São Paulo), de autoria de Álvaro da Veiga Coimbra, é possível conferir moedas emitidas tanto no reinado de D. Manuel I quanto de D. João III.
Abaixo podemos observar algumas ilustrações de moedas dos dois períodos:
Moedas Introduzidas por D. Manoel I

Moeda cunhadas durante Reinado de D. Manoel I (Fonte: Noções de Numismática Ibérica (III) , 1958)
Da esquerda para a direita, temos uma moeda de ouro com a cruz da Ordem de Cristo, seguida por duas moedas de prata, um tostão (ou quarto de português) e um real de prata (ou vitém) e, por fim, uma moeda de cobre: um real de cobre.
Moedas Introduzidas por D. João III
Moeda cunhadas durante Reinado de D. João III (Fonte: Noções de Numismática Ibérica (III) , 1958)
Na sequencia as moedas de ouro: mostrando a cruz de Cristo, seguida por um cruzado com a cruz de Monte do Carvalho, no valor de 400 réis, e uma moeda de São Vicente de 1.000 réis. Por fim, uma moeda de cobre de 10 réis.
Olhando para essas ilustrações quero destacar o formato dos escudos mostrado nas moedas durantes os dois reinados.

Ilustração mostrando os diferentes escudos utilizados nas Moedas de D. Manoel I e D. João III
Os escudos utilizados nas cunhagens das moedas de D. Manoel I e D. João III seguem os modelos heráldicos presentes, respectivamente, no Livro do Armeiro-Mor e no Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas, revelando a correspondência entre a simbologia monetária e os padrões heráldicos oficiais de cada reinado. Desta forma, reforço que em meu entendimento, o brasão de armas mais apropriado para ter representado D. João III na moeda de 2.000 réis é aquele constante no Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas.
Nota: Gostaria de deixar claro que, embora tenha feito algumas observações em relação às ilustrações dos brasões presentes tanto na moeda de 1.000 réis de Martim Afonso de Sousa quanto na de 2.000 réis de D. João III, meu único objetivo é aprofundar o entendimento sobre a temática abordada. Em nenhum momento essas considerações devem ser interpretadas como críticas aos criadores, gravadores ou responsáveis pela concepção dessas peças, pelas quais sinto profunda admiração.
As Moedas Vicentinas
Moeda de 100 Réis 1932
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 21,0 mm
Massa: 5,00 g
Espessura: 1,80 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: Busto do cacique Tibiriçá. Tendo na cabeça um cocar de penas, um colar e no ombro esquerdo um arco. No campo, em sete linhas interrompidas pela Legenda "IV centenário da Colonização do Brasil, 1532-1932". Abaixo da data 1532 a sigla CL do gravador Leopoldo Alves Campos.
Reverso: No campo, ao alto, uma panóplia. No contexto das culturas indígenas brasileiras, a 'panóplia' pode ser compreendida como o conjunto de armas, adornos, pinturas e objetos cerimoniais e de prestígio utilizados em combate, rituais ou demonstrações de poder.
Na imagem é possível identificar um cocar de penas, um arco na horizontal, com duas flechas, com as penas e pontas diferentes se cruzando na diagonal. Junto com uma lança e um tacape também se cruzando em diagonal.
No enxergo, o valor 100 RÉIS entre dois pontos, acompanhando a orla. A esquerda da haste da lança a sigla TW do gravador Walter Rodriques Toledo.
Siglas
Nota: No reverso da moeda 100 réis observamos o T na perna esquerda do W, formando a sigla TW.
Moeda de 200 Réis 1932
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 25,0 mm
Massa: 8,00 g
Espessura: 2,00 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: No centro, uma esfera armilar. Na orla, a inscrição "IV centenário da Colonização do Brasil", no qual cada palavra é separado por um ponto. Em baixo do equador a sigla CB do gravador Calmon Barreto.
Reverso: Uma caravela quinhentista. Na orla, 1532-1932. No exergo, o valor 200 réis em duas linhas. A direita do valor a sigla AB do gravador Arlindo Bastos.
Siglas
Notas:
Na sigla de Arlindo Bastos apresentada no Reverso, a letra B aqui fotografada, apareceu desgastada na parte inferior.
No catálogo online
moedas do Brasil, a sigla indicada no reverso da moeda de 200 réis, como sendo de Arlindo Bastos é descrito como
BA.
Moeda de 400 Réis 1932
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 30,0 mm
Massa: 12,00 g
Espessura: 2,00 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: Um circulo contendo internamente o mapa da América do Sul dividido pelo meridiano de Tordesilhas, ladeado pelas datas 1532-1932. Em baixo do mapa, ao lado esquerdo, a sigla WT do gravador Walter Toledo. Na orla, IV centenário da Colonização do Brasil, entre pontos.
Reverso: Cruz da Ordem Militar de Cristo. À esquerda e à direita da cruz dois losangos. Em cima, o valor 400 em linha curva acompanhando a orla e, embaixo, a palavra RÉIS também acompanhando a orla. No ângulo entre o braço direito e o pé da cruz a sigla BN do gravador Basílio Nunes.
Siglas
Nota: No anverso da moeda de 400 réis, diferente da moeda de 100 réis, a sigla de Walter Toledo tem o T na perna direita do W formando a sequência WT. Outras siglas de Walter Toledo diferentes destas apresentadas nas moedas vicentinas, podem ser conferidas nas moedas de 1, 2 e 5 Cruzeiros no artigo Moedas do Plano Cruzeiro Cr$ (1942 ~1967), A Sigla de Basílio Nunes BN (é um pouco difícil de identificar na amostra fotografada).
Moeda de 500 Réis 1932
Material: Bronze-alumínio (liga do material: Cu 91%, Al 9%)
Diâmetro: 22,5 mm
Massa: 4,00 g
Espessura: 1,5 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: No centro, a efígie de João Ramalho levemente voltada para a esquerda (para quem observa a moeda, lado direito), vestido com uma túnica. Sobre a túnica, um cinto transversal. No fundo liso, está a legenda em sete linhas IV centenário da Colonização do Brasil, 1532-1932. A direita em baixo do traço a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho.
Reverso: Sobre traços horizontais, um gibão bandeirante, entre o valor 500 a esquerda, e a palavra réis (ambos entrelaçados e em linha vertical), em cruz. O gravador do reverso foi Calmon Barreto de Sá Carvalho que deixou de assinar.
Nota: Existem no mercado muitas falsificações da moeda de 500 réis de 1932, apelidada de "Coletinho". No artigo "Moeda João Ramalho – Gibão Bandeirante 1932", de autoria de Rubens Bulad, publicado em junho de 2015 no informativo da Associação Virtual Brasileira de Numismática (NVMISMATA), são mencionadas as principais diferenças entre a moeda original e a cópia chinesa, com destaque para os detalhes do design nas duas versões, perceptíveis tanto no anverso quanto no reverso.
Moeda de 1000 Réis 1932
Material: Bronze-alumínio (liga do material: Cu 91%, Al 9%)
Diâmetro: 26,70 mm
Massa: 08,00 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: Efígie de Martim Afonso da Sousa de corpo quase inteiro, apontando para o lado direito (lado esquerdo de quem observa a moeda). No campo, a inscrição em sete linhas interrompida pela figura, IV centenário da Colonização do Brasil, 1532-1932. Abaixo da data 1932 a sigla CL do gravador Leopoldo Campos.
Reverso: Brasão das Armas atribuído a Martim Afonso (Com algumas ressalvas apontadas acima). Na orla, na parte superior o valor de 1000 réis. A esquerda na parte inferior do brasão a sigla PH| do gravador Hermínio Pereira.
Siglas
A Sigla CL do gravador Leopoldo Campus apresentada no anverso da moeda de 1000 réis de 1932 é diferente da que foi apresentada pelo gravador na moeda de 100 reis 1932. Nesta Moeda o L se encontra virado pra baixo. Durante o texto vamos observar outra versão desta sigla com L deitado na moeda de 200 reis 1936.
Nota: A moeda de 1.000 réis de 1932, com a efígie de Martim Afonso, é apelidada de "Coletão" entre os colecionadores.
Moeda de 2000 Réis 1932
Material: Prata (liga do material: Ag 50% , Cu 40 % , Ni 5 %, Zn, 5 %)
Diâmetro: 26,00 mm
Massa: 08,00 g
Espessura: 1,8 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: Busto de D. João III, Rei de Portugal. levemente voltado para esquerda, (lado direito de quem observa a moeda). No campo, em sete linhas interrompidas pela efígie, IV centenário da Colonização do Brasil, 1532-1932. A sigla CL em baixo da data 1932 é do gravador Leopoldo Campos
Reverso: O Brazão real de D. João III (Com algumas ressalvas apontadas acima). Em orla, ao alto a inscrição do valor, 2000 - réis. No exergo, em caracteres góticos, REI DPORTUGALL. No lado esquero e direito ao brazão dois pequenos circulos. A direita da palavra Portugal a sigla AB do gravador Arlindo Bastos.
Nota: A sigla de Arlindo Bastos, é bem difícil de identificar no reverso desta amostra fotografada, Conseguimos verificar, com muita dificuldade, as letras A seguido da letra B.
Aplicando um leve processamento de imagem, com um filtro de suavização do tipo gaussiano (GaussianBlur) e aumento de contraste, foi possível realçar melhor a sigla.
Sigla AB destacada do Gravador Arlindo Bastos no Reverso da Moeda de 2000 réis Vicentina
Tiragem das Moedas Comemorativas Vicentinas
*No catalago online Moedas do Brasil é mencionado para a moeda de 1000 Réis Vicentina a tiragem de 59214 peças.
Praticamente todas as peças, com a temática vicentina com a exceção da moeda de 100 réis, são escassas, especialmente as moedas de 500 réis e 1000 réis atingindo valores bastante elevados no mercado numismático.
Curiosidade: As moedas comemorativas do IV Centenário da Capitania de São Vicente tiveram como propósito homenagear a primeira vila estabelecida no Brasil. No entanto, há muitos outros episódios interessantes relacionados à história monetária que poderão ser abordados futuramente aqui no blog. Um exemplo são as primeiras moedas com a efígie de São Vicente, santo padroeiro tanto da cidade de São Vicente, no Brasil, quanto de Lisboa, em Portugal. Essas moedas, foram cunhadas em Portugal em ouro de 21 1/8 quilates, durante os reinados de D. João III (por determinação da ordenação de 10 de junho de 1555) e de D. Sebastião. Conhecidas como moeda de São Vicente, tinham valor de 1.000 réis (Esta moeda pode ser vista na ilustração que mostra as moedas de D. João III, apresentadas no texto), enquanto o meio São Vicente correspondia a 500 réis.
Outro episódio curioso relacionado à cidade de São Vicente aparece em relatos de jornais, que mencionam estudos e discussões propostas pela SNB, no texto escrito por Afonso Taunay, no primeiro congresso de numismática brasileiro sobre a possível existência de uma Casa da Moeda em 1645 (Os principais textos do congresso foram preservados nos dois volumes dos Annaes do evento), na referida cidade. Essa iniciativa teria se originado a partir de providências estabelecidas pelo alvará de 30 de maio de 1642, mas os indícios sugerem que sua função estava mais voltada à fundição de barras de ouro do que à cunhagem regular de moedas.
Série de moedas com a temática de Brasileiros Ilustres
A temática dos “Brasileiros Ilustres”, adotada durante a Era Vargas, muito provavelmente teve inspiração na obra Galeria dos Brasileiros Ilustres, de Sébastien Auguste (Sebastião Augusto) Sisson (1824–1898), publicada entre 1858 e 1861, que reunia retratos e biografias de figuras de destaque da história nacional. Essa referência histórica pode ter servido como base simbólica para a seleção de personalidades homenageadas em moedas e selos do período, reforçando o projeto de construção de uma identidade nacional promovido pelo governo.
A Galeria dos Brasileiros Ilustres foi organizada como publicação em fascículos a partir de 1857, reunidos posteriormente em dois volumes editados entre cerca de 1858 e 1861. A obra apresenta dezenas de retratos litografados acompanhados de breves biografias das principais personalidades do Império, com o objetivo de preservar, visualmente e por escrito, a memória daqueles que marcaram a história nacional no período.
"As biografias dos homens notáveis e eminentes de um país são páginas soltas do grande livro da história dele." — Augusto Sisson, Galeria dos Ilustres – Volume 1.
Num momento em que o Brasil buscava consolidar-se como nação independente, a Galeria de Sisson funcionou como um verdadeiro “panteão de papel”, estabelecendo um conjunto de heróis e personalidades que deveriam servir de referência e inspiração para a sociedade. Publicada sob a proteção do Imperador Dom Pedro II, reforçava o projeto monárquico de um país unificado e centralizado, valorizando aqueles que contribuíram para sua construção política, cultural e científica.
No século XX, a memória dessas figuras voltou a ser difundida por vias oficiais. Durante a Era Vargas, o Decreto nº 24.257, de 16 de maio de 1934, determinou mudanças nas características das moedas, e nas emissões de 1935 surgiu a série que homenageava figuras históricas, reforçando, por meio da numismática, a presença cotidiana de “ilustres” na formação da identidade nacional.
Na primeira série de moedas Brasileiros Ilustres, foram escolhidos o Padre José de Anchieta, o Regente Diogo Antônio Feijó e o Duque de Caxias, por representarem três pilares simbólicos que o governo Vargas buscava exaltar naquele momento histórico: a formação espiritual e educacional do país (Anchieta), a liderança política e a defesa das instituições nacionais (Feijó) e o espírito militar e de unificação territorial (Caxias). Outras figuras também compuseram a série, como o Marquês de Tamandaré, símbolo da força naval brasileira; o Barão de Mauá, representante do empreendedorismo e da modernização econômica; Carlos Gomes, destacado compositor nacional; Oswaldo Cruz, referência em ciência e saúde pública; e Santos Dumont, ícone da inovação e da aviação. Essa seleção não apenas homenageava personagens consagrados pela historiografia, mas também reutilizava, de forma adaptada, o mesmo princípio da Galeria de Sisson: criar e difundir um cânone de heróis nacionais, reforçando a propaganda nacionalista, a valorização do mérito em diversas áreas e a coesão política promovida pelo governo de Vargas.
A 1ª Série de Moedas com a Temática de Brasileiros Ilustres
O Decreto nº 24.257, de 16 de maio de 1934 Altera a tolerância da moeda de prata 2$000 (2 mil réis) e a composição das de bronze de alumínio de 1$000 (1000 réis )e $500 (500 réis) estampadas com efígies de Brasileiros Ilustres.
O Chefe do Govêrno Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil usando das atribuições que lhe confere o art. 1º do decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930, e atendendo ao que lhe representou o ministro da Fazenda sôbre as técnicas de alterar a tolerância da atual moeda de 2$000 e a composição das de 1$000 e $500,
Nota: A moeda de 2.000 réis, antes produzida com a liga de prata, cobre, níquel e zinco (Ag 50%, Cu 40%, Ni 5%, Zn 5%), passou a ser fabricada com liga composta apenas de prata e cobre (Ag 50% e Cu 50%). Já as moedas de 500 réis e 1.000 réis, originalmente cunhadas em bronze-alumínio com liga de cobre e alumínio (Cu 91% e Al 9%), passaram a ser produzidas com cobre, alumínio, zinco e outros elementos (Cu 90%, Al 8%, Zn 1,7% e outras impurezas 0,3%).
DECRETA:
Art. 1º As moedas de prata de 2$000 e as de bronze de alumínio de 1$0000 e $500, que doravante se cunharem, terão os característicos constantes do quadro seguinte :
Art. 2º São mantidos, na amoedação dessas peças, até dia 31 de dezembro próximo, os cunhos atuais.
Art. 3º As três moedas supra referidas, que se cunharem dessa data em diante, trarão além das indicações legais do costume, os seguintes motivos : A de 2$000, ao anverso a efígie do Duque de Caxias e no reverso uma espada batalhante; A de 1$000, no anverso, a efígie de Anchieta e no reverso um livro aberto; A de $500, no anverso a efígie do Regente Feijó e no reverso uma coluna.
Diogo Antônio Feijó
Diogo Antônio Feijó (1784–1843), cuja efígie foi representada na moeda de 500 réis, foi um sacerdote, professor e político que exerceu a Regência Una do Brasil entre 1835 e 1837. Feijó assumiu a regência porque, após a abdicação de D. Pedro I em 1831, o país ficou sob a tutela de um regente até que seu filho, D. Pedro II, atingisse a maioridade.
Lembrado por seu papel na organização das instituições políticas e nas reformas liberais do período regencial, foi um dos fundadores do Partido Liberal e atuou como Ministro da Justiça. Sua regência ocorreu em um dos momentos mais conturbados do Império, marcado por revoltas provinciais, como a Revolução Farroupilha, iniciada no começo de seu mandato.
Pressionado pela oposição conservadora e enfrentando problemas de saúde, renunciou em 1837. Apesar de breve, seu governo teve importância decisiva para a consolidação da vida política brasileira no século XIX, garantindo a manutenção da ordem e a continuidade do Estado monárquico durante a menoridade de D. Pedro II.
Padre José de Anchieta
O Padre José de Anchieta (1534–1597) cuja efígie foi representada na moeda de 1.000 réis, foi um jesuíta missionário espanhol considerado um dos fundadores da vida cultural e educacional do Brasil colonial, autor de obras literárias e figura central na evangelização e na formação de vilas e escolas. Nascido nas Ilhas Canárias, chegou ao Brasil em 1553 com a missão de catequizar os povos nativos.
Além de sua vocação religiosa, Anchieta exerceu papel político e diplomático decisivo na manutenção da colonização portuguesa no Brasil. Durante os conflitos entre colonos e indígenas, destacou-se como intermediário nas negociações de paz, especialmente no episódio da Confederação dos Tamoios, em 1563, quando acompanhou Manuel da Nóbrega na missão de Iperoig (atual Ubatuba). Sua atuação foi fundamental para restabelecer a paz entre os portugueses e os povos indígenas do litoral, assegurando a continuidade da presença lusitana e evitando o colapso das primeiras vilas coloniais.
Destacou-se como poeta e dramaturgo, utilizando peças teatrais e poemas como instrumentos de catequese. Entre suas obras, estão o Poema à Virgem (c. 1563, composto durante o período de Iperoig), o Auto na Vila de Guaraparim (c. 1585) e a Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil (1595), considerada a primeira gramática do tupi antigo, que o tornou precursor da linguística e da literatura no país.
Além de sua atuação religiosa e cultural, teve papel crucial na fundação de São Paulo (1554) e na consolidação do núcleo do Rio de Janeiro (1565). Beatificado em 1980 pelo Papa João Paulo II, foi canonizado em 3 de abril de 2014 pelo Papa Francisco.
Nota: A Confederação dos Tamoios (1554–1567) foi uma aliança de povos indígenas do litoral de São Paulo e Rio de Janeiro que resistiram à colonização portuguesa e à escravização. Reunia diversas tribos de origem tupi, como os tupinambás (chamados de Tamoios pelos portugueses, significando "velhos" ou "ancestrais"), tupiniquins, goitacás. Contaram com o apoio dos franceses da França Antártica, que lhes forneceram armas e suprimentos em troca de alianças contra os portugueses, com o interesse de estabelecer uma colônia própria.
Em 1563, os jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega negociaram a Paz de Iperoig, considerado o primeiro acordo diplomático entre europeus e indígenas no Brasil. Durante as negociações, o padre Anchieta permaneceu como refém dos tamoios por cerca de quatro meses, enquanto Nóbrega retornava a São Vicente para garantir o cumprimento do tratado pelos portugueses (como a libertação de indígenas escravizados). Nesse período, Anchieta escreveu o célebre Poema à Virgem e, com sua atitude corajosa e conciliadora, contribuiu para consolidar a trégua entre indígenas e colonizadores, tornando-se símbolo de fé e mediação pacífica. Embora temporária, essa trégua foi decisiva para assegurar a continuidade da colonização portuguesa no litoral paulista.
O desfecho da Confederação dos Tamoios ocorreu entre 1565 e 1567, quando as forças portuguesas, lideradas por Mem de Sá e seu sobrinho Estácio de Sá, lançaram uma ofensiva decisiva contra os tamoios e seus aliados franceses. Em 1565, Estácio de Sá organizou a expedição que resultou na fundação da cidade do Rio de Janeiro, estabelecida como base militar estratégica para expulsar os franceses e dispersar os indígenas rebelados. O padre José de Anchieta acompanhou a expedição como capelão e conselheiro espiritual, ao lado de Manuel da Nóbrega, auxiliando nas negociações com os povos aliados e na organização social e religiosa da nova povoação. Em 1567, com a morte de Estácio de Sá em combate e a destruição dos últimos redutos tamoios, a Confederação foi definitivamente derrotada. O resultado consolidou o domínio português no litoral sul e sudeste e marcou o fim da influência francesa no Brasil.
Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias)
O Marechal Luís Alves de Lima e Silva, conhecido como Duque de Caxias (1803–1880), cuja efígie foi representada na moeda 2.000 réis, foi o principal comandante militar do Império, conhecido por suas campanhas que consolidaram o território e pela sua influência na organização do Exército, fatores que lhe valeram o título de Patrono do Exército Brasileiro. Essas escolhas refletem a intenção do Estado de 1934 de enfatizar, por meio da iconografia monetária, figuras associadas ao poder político, à construção cultural e à defesa nacional.
Caxias, apelidado de "O Pacificador", foi uma figura central no período regencial, atuando na repressão a diversas revoltas, como a Balaiada no Maranhão e a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul, garantindo a unidade territorial do Brasil. Sua experiência e liderança foram cruciais durante a Guerra do Paraguai, onde assumiu o comando das Forças Aliadas e conduziu o Exército à vitória em batalhas decisivas. Além de seu brilhante histórico militar, ele foi uma figura política proeminente, servindo como Presidente do Conselho de Ministros e Ministro da Guerra. Sua atuação foi essencial para a modernização e profissionalização do Exército Imperial, e seu legado é celebrado no Dia do Soldado, comemorado em 25 de agosto, data de seu nascimento.
A efígie de Duque de Caxias também foi utilizada na cédula de Cr$ 2,00 no durante o Plano Cruzeiro no período de (1942 ~1958).
Uma medalha criada pelos gravadores O. Maia e Benedito de Araújo Ribeiro, em homenagem ao
Duque de Caxias, referente à
inauguração do Monumento de Caxias e do Panteão Militar – XXV-VIII-MCMXLIX (25 de agosto de 1949), pode ser conferida
aqui.
As personalidades homenageadas na primeira emissão de moedas com a temática "Brasileiros Ilustres" no era de 1935:
Brasileiros ilustres: cujas efígies figuram nas moedas de $500, 1$000 e 2$000 em 1935, da esquerda para a direita, Diogo Antônio Feijó, Pe. José de Anchieta e o Marechal Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias) (Fontes: Portal Gov.br, Wikipedia, 2025).
As Moedas 500 réis ($500), 1000 réis (1$000) e 2000 réis (2$000) emitidas através do Decreto-Lei nº 24.257 em 1935.
Moeda de 500 réis 1935
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 1,7% Zn e 0,3% outras impurezas).
Diâmetro: 22,5 mm
Massa: 4,00 g
Espessura: 1,55 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: Em relevo no anverso e no reverso.
ANVERSO: No centro, o busto do Regente do Brasil, Diogo Antônio Feijó, levemente voltado para a direita (lado esquerdo do observador), estendendo-se até o exergo. Na orla superior, da esquerda para a direita, lê-se a inscrição "REGENTE FEIJÓ", com um ponto ao lado superior direito da letra “O”. As letras “TE” de "REGENTE" ficam parcialmente cobertas pela cabeça do busto. No exergo, à direita, sobre a vestimenta, encontra-se a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho.
REVERSO: No centro, uma coluna coríntia sobre um traço horizontal. À esquerda da coluna, o valor 500, e à direita, a palavra "RÉIS", ambas em posição horizontal. No alto, a inscrição "BRASIL" acompanha a orla, entre dois traços. No exergo, a data seguida da sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo. Tanto a data quanto a sigla estão sobre um fundo com traços verticais.
Nota: A coluna coríntia, identificável pelo capitel ricamente ornamentado com folhas de acanto de nervuras bem marcadas, das quais é possível contar cerca de dez na moeda representada, é um dos elementos mais sofisticados do estilo clássico greco-romano. Sua riqueza de detalhes e elegância simbolizam a imponência e a estabilidade das instituições durante o período regencial (1831–1840), quando Feijó exerceu a regência do Brasil. Esse estilo arquitetônico, que transmite autoridade e solidez, também se manifesta em importantes edificações do período imperial, como o Palácio Imperial (Paço Imperial), o Palácio da Quinta da Boa Vista, antiga residência da família real e atual Museu Nacional, e também na Igreja da Candelária, na qual o edifício possui elementos neoclássicos e barrocos, mas grande parte das colunas internas e externas é de ordem coríntia ou jônica.
Siglas:
Nesta amostra fotografada a Sigla T. Walter Toledo, aparece desgastado na parte inferior.
Moeda de 1000 réis 1935
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 1,7% Zn e 0,3% outras impurezas).
Diâmetro: 26,7 mm
Massa: 8,00 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: Em relevo no anverso e no reverso.
ANVERSO: A cabeça do Padre Anchieta de perfil apontando para a sua direita, lado esquerdo do observador. À esquerda, em sentido vertical, a inscrição ANCHIETA tudo em fundo quadriculado. No exergo, à esquerda da gola do hábito, a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho.
REVERSO: No centro, um livro aberto com suas escritas ilegíveis. em cima do livro a data. Acompanha a orla, na parte superior, o valor 1.000 RÉIS entre dois sinais de hifens. No exergo, a inscrição do BRASIL com efeito, letras menores na extremidade, e letras maiores no centro. Ào lado esquerdo no alto da letra B a sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo.
Siglas:
Nota: Nesta amostra fotografada, A letra C da sigla de Calmon Barreto aparece duplicada.
Curiosidade, a imagem abaixo mostra os detalhes do "texto" gravado sobre livro:
Moeda de 2000 réis 1935
Material: Prata (Liga do Material Ag 50% e Cu 50%)
Diâmetro: 26,7 mm
Massa: 8,00 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: Em relevo no anverso e no reverso.
ANVERSO: Cabeça do Duque de Caxias de perfil, apontando para a sua direita, lado esquerdo do observador com o seu característico chapéu bicorne (chapéu armado estilo napoleonico), tudo em fundo quadriculado. À esquerda, a palavra CAXIAS acompanhando a orla. No exergo, a dragona do ombro esquerdo.
REVERSO: No centro, ocupando todo o campo, uma espada desembainhada na vertical separa o valor 2000 e a palavra RÉIS, no alto a ponta da espada separa dois traços. Acompanhando a orla na parte de baixo, à esquerda do punho da espada, a palavra BRASIL e, à direita, a data 1935 ladeada por dois hifens. À direita, entre o punho da espada e a data, debaixo do hífen a sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo.
Sigla no Reverso:
Sigla no reverso de W.T. de Walter Toledo,
Nota: No livro
Moedas do Brasil de 2002 de Eugenio Vergara Caffarelli é mencionado que a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho aparece no anverso quase no centro da dragona. 
Eu não encontrei esta sigla na moeda. Seria esta moeda com a sigla CB mencionada por Vergara uma possível variante?
A Lei nº 128, de 6 de dezembro de 1935: dispõe sobre a cunhagem de novas moedas, a partir de 1936, altera as características das moedas de bronze alumínio e modifica a liga da moeda de 2000 réis de prata para bronze alumínio.
Art. 1°. As moedas de prata, bronze de alumínio e nickel, que se cunharem a partir de 1º de janeiro de 1936, terão o valor, peso, diâmetro, titulo e composição constantes do quadro a que se refere o art. 2º desta lei.
Art. 2º Fica o Poder Executivo autorizado a modificar oportunamente as inscripções dos cunhos das peças existentes e bem assim a escolher os modelos e gravuras creados por esta lei.
Valor | Peso | Diamettro | Titulo e composição | Tolerancia |
Para mais ou para menos |
Rs. | Grammas | Millimetros | Millesimos | No peso | No título e na composição |
Granna | Millesimos |
Prata | 5$000 | 10,000 | 27,5 | 600 | 0,500 | 5 |
Bronze de aluminio | 2$000 1$000 $500 | 9,000 7,000 5,000 | 26,5 24,5 22,5 | 900 CU 80 AL 20 ZN | 0,450 0,350 0,250 | 20 10 10 |
Nickel | $400 $300 $200 $100 | 10,000 8,000 6,000 4,500 | 26 25 23 20 | 750 CU 250 NI | 0,200 0,200 0,100 0,100 | 10 10
|
Art. 3º Fica o Poder Executivo autorizado a mandar cunhar moedas auxiliares e divisionarias, na importancia de cincoenta mil contos de réis (50.000:000$000), sendo: vinte mil contos de réis (20.000:000$000) em prata; vinte mil contos de réis (20.000:000$000) em bronze de aluminio, e dez mil contos de réis (10.000:000$000) em nickel, afim de substituir uma soma correspondente, do papel moeda ora em circulação.
Art. 4º As cedulas trocadas pelas moedas referidas no artigo anterior serão recolhidas à Caixa de Amortização e incineradas.
Nota: Foi mantido o mesmo valor monetário em circulação com a troca de cédulas por moedas. As notas retiradas foram incineradas, de modo a impedir que continuassem em circulação juntamente com as novas moedas. Esse procedimento assegurou que o valor monetário disponível à população permanecesse inalterado, preservando a estabilidade econômica ao evitar que a coexistência dos dois meios elevasse artificialmente a quantidade de dinheiro em circulação.
Art 5º - Salvo mutuo consentimento entre as partes interessadas, o poder liberatorio das moedas mandadas cunhar por esta lei é o seguinte:
5$000 até...........................................................................................................................100$000
2$000 até.............................................................................................................................50$000
1$000 até.............................................................................................................................25$000
$500 até...............................................................................................................................10$000
$400 até.................................................................................................................................8$000
$300 até.................................................................................................................................6$000
$200 até.................................................................................................................................4$000
$100 até.................................................................................................................................2$000
O Decreto nº 565, de 31 de Dezembro de 1935 Autoriza o ministério de Estado dos Negócios da Fazenda a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de cinquenta mil contos de réis (50.000:000$000) em moedas auxiliares e divisionárias e dá outras providencias.
Art. 1º Fica o ministro de Estado dos Negocios da Fazenda autorizado a mandar cunhar na Casa da Moeda a importancia de cincoenta mil contos de réis (50.000:000$000) em moedas auxiliares e divisionarias, sendo: vinte mil contos de réis (20.000:000$000) em prata; vinte mil contos de réis (20.000:000$000) em bronze de aluminio, e dez mil contos de réis (10.000:000$000) em nickel, afim de substituir uma somma correspondente de papel moeda em circulação.
Art. 2º A cunhagem da importancia referida no artigo anterior terá inicio a partir de 1º de janeiro proximo, devendo as respectivas peças conter o valor, peso, diametro, titulo e composição constante do quadro seguinte:
Tolerância para mais ou para menos
| Metal | Valor | Peso | Diâmetro | Titulo e composição | No Peso | No titulo e na composição |
| | Rs. | Grammas | Millimetros | Millessimos | Grammas | Millessimos |
| Prata | 5$000 | 10,000 | 27,5 | 600 | 0,500 | 5 |
| Bronze de aluminio | 2$000 | 9,000 | 26,5 | 900 CU | 0,450 | 20 |
| | 1$000 | 7,000 | 24,5 | 80 AL | 0,350 | 10 |
| | $500 | 5,000 | 22,5 | 20 Zn | 0,250 | 10 |
| Nickel | $400 | 10,000 | 28 | 750 CU | 0,200 | |
| | $300 | 8,000 | 25 | | 0,200 | 10 |
| | $200 | 6,000 | 23 | 250 Ni | 0,100 | 10 |
| | $100 | 4,500 | 20 | | 0,100
|
Art. 3º A orla das moedas de prata e bronze de alumínio será serrilhado e a das de nickel, lisa.
Art. 4º Na cunhagem das moedas determinadas por este decreto será empregada a prata existente nas tesourarias da União, em barras ou moedas dos antigos cunhos, bem como a que for adquirida, seja em barras, seja em moedas nacionais ou estrangeiras.
Art. 5º As cedulas trocadas pelas moedas, cujo fabrico e emissão se autorizam por este decreto, serão recolhidas á Caixa de Amortização e incineradas.
Art. 6º Salvo mutuo consentimento entre as partes interessadas o poder liberatorio das moedas mandadas cunhar por este decreto é o seguinte:
5$000 até......................................................................................................100$000
2$000 até........................................................................................................50$000
1$000 até.......................................................................................................25$000
$500 até.......................................................................................................10$000
$400 até..........................................................................................................6$000
$300 até............................................................................................................6$000
$200 até.............................................................................................................4$000
$100 até...............................................................................................................2
Art. 7º Nas faces das moedas que se cunharem a partir de 1º de janeiro próximo, em consequência deste decreto, serão estampadas as seguintes composições.
100 rs.
No anverso, a efígie do almirante marquez de Tamandaré, de frente, com a inscrição - Taman - deré - horizontalmente traçada e dividida em duas partes pela figura. Em baixo dessa inscrição, á equerda, a sigla do desenhista e gravador Calmon Barreto.
No reverso, ao centro, uma ancora enlaçada por uma corrente presa ao arganéo. No campo, á esquerda, o valor - 100 - e, á direita, a palavra - Réis - ambos em posição vertical.
Em curva, no alto, a palavra - Brasil - entre um arabesco e a data - 1936 - e em baixo, á esquerda, entre os braços da ancora e o planeta, o monograma do desenhista e gravador Walter Toledo.
200 rs.
No anverso, o busto do visconde de Mauá, de frente dividindo em duas partes a inscrição horizontal - Ma - uá - Sob o ditongo - uá, o monograma do prof. Leopoldo Campos, autor do desenho e da gravura da peça.
Circunda a composição um listel denticulado.
No reverso, entre pontos, uma locomotiva sobre trilhos, encimada pela inscripção em circulo - Brasil - sobreposta á data 1936 - No exergo, o valor - 200 - sobreposto á abreviatura - Rs. - e, sob o parachoque da machina á direita, a mesma sigla do anverso.
300 rs.
No anverso. a efígie de Carlos Gomes, á esquerda, separando a palavra - Carlos - á esquerda, da palavra - Gomes - á direita, ambas escritas horizontalmente.
Sob a palavra - Gomes - o monograma do prof. Leopoldo Campos, autor do desenho e da gravura da peça.
No reverso, uma lira coroada pela inscrição em circulo - Brasil - sobreposta á era - 1936.
No campo, á esquerda, o valor - 300 - e á direita a palavra - Réis escriptos em sentido curvilineo-vertical. No exergo, a mesma sigla do anverso.
400 rs.
No anverso, a efigie de Oswaldo Cruz a 314 a esquerda, dividindo a palavra - Oswal - do - gravada em duas linhas sobrepostas, á esquerda, da palavra - Cruz - á direita.
Debaixo desta, o monograma do desenhista e gravador Calmon Barreto.
No reverso, entre dois filetes, uma lâmpada acesa, encimada pela inscrição circular - Brasil - sobreposta á data - 1936.
No exergo, entre dois pontos e em duas linhas sobrepostas, o valor - 400 - Réis - seguido pela sigla do desenhista e gravador Walter Toledo.
500 rs.
No anverso a efígie do regente do Império. Diogo Antonio Feijó, a 3|4 á esquerda, tendo a cabeça circundada pela inscrição - Regente Feijó.
Na gola da vestimenta. á direita, junto ao planeta as iniciais do desenhista e gravador Calmon Barreto.
No reverso, uma coluna coríntia, encimada pela inscrição circular - Brasil, - entre dois filetes. A' esquerda do campo, o valor - 500 - e á direita a palavra - Réis - em posição horizontal.
No exergo, a era da cunhagem - 1936 - e o monograma do desenhista e gravador Walter Toledo.
1.000 rs.
No anverso em campo quadriculado a cabeça do padre José Anchieta, de perfil á esquerda, onde se ostenta a inscrição vertical - Anchieta -.
Em baixo, á esquerda, junto á gola do habito e ao planete, as iniciais do desenhista e gravador Calmon Barreto.
No reverso ao centro, um livro aberto, encimado pela indicação do valor em circulo - 1.000 réis - entre dois filetes. Sob o valor, a data - 1936 - Na parte inferior do campo a palavra - Brasil - seguida pelo monograma do desenhista e gravador Walter Toledo.
2.000 rs.
No anverso, o busto do duque de Caxias, de perfil e chapéu armado, á direita onde sobressaem a inscrição vertical trissílabo - Ca-xi-as.
Na parte inferior do campo, á direita, o monograma do prof. Leopoldo Campos, e á esquerda uma coroa ducal.
No reverso, ao centro um punho de espada, encimado pela inscripção circular - Brasil - entre dois filetes. Indicam o valor: um 2 incluso nos copos da arma, um ponto saliente no punho e tres zeros entrelaçados, em seguimento.
Acima dos zeros, a data - 1936 - e em baixo a abreviatura - Rs. -. No exergo, o monograma do desenhista e gravador Walter Toledo.
5.000 rs.
No anverso, o busto de Santos Dumont, de perfil á esquerda, ladeado pelas inscrições verticais - Santos - á esquerda, e - Dumont - á direita. No exergo, sob o mento da figura, o monograma do desenhista e gravador Calmon Barreto. No reverso, uma asa aberta ao vôo, da direita para a esquerda, tendo em cima a inscrição - Brasil - e em baixo o valor 5.000 - sobreposto á palavra - Réis - entre dois pontos. Sob a ponta da asa, á esquerda, a era - 1936 - e no exergo a sigla do desenhista e gravador Walter Toledo.
No Decreto nº 565, foi determinada a introdução e o lançamento das moedas de 300 réis ($300) e de 5000 réis (5$000).
A criação da moeda de 300 réis já era prevista em 1933. Esse fato pode ser verificado em um artigo de 10 de setembro de 1933, publicado no jornal Correio da Manhã, que menciona a visita do então ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, à Junta Administrativa da Caixa de Amortização. Nessa reunião foram discutidas diversas pautas, entre elas o lançamento da moeda de 300 réis, a emissão de várias cédulas e a reforma monetária (adoção do plano Cruzeiro). Segue, abaixo, o trecho do artigo que faz referência à criação da moeda de 300 réis.
Trecho do artigo mencionando a visita de Oswaldo Aranha a Junta Administrativa da Caixa de Amortização, publicado em 10 de setembro de 1933 no jornal Correio da Manhã. (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
Segundo o artigo "A Falta de Moedas de Níquel", publicado em 16 de outubro de 1935 no jornal Correio da Manhã, essa moeda foi emitida para suprir a escassez de troco no mercado.
Artigo "A Falta de moedas de nickel" do jornal Correio da Manhã em 16 de outubro de 1935 mencionando novamente a criação da moeda de 300 réis (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
A moeda de 5.000 réis também é mencionada anteriormente na seção "Diversas Notas" do Jornal do Brasil (RJ), de 24 de outubro de 1934. Nesse artigo, a emissão da moeda de 5.000 réis (em prata) é prevista, uma vez que o Tesouro Nacional havia deixado de encomendar cédulas inferiores a esse valor junto à American Bank Note Company. Imaginava-se, contudo, que essa nova moeda seria lançada apenas após a adoção do plano Cruzeiro. (O artigo sugere que a reforma monetária do cruzeiro manteria o padrão monetário em mil-réis).
Trecho de artigo da seção "Diversas Notas" do Jornal do Brasil (RJ) em 24 de outubro de 1934, mencionando a criação da moeda de 5000 réis em prata
O artigo "Moeda Divisionária", publicado em 9 de novembro de 1935 no Jornal do Brasil (RJ), comenta que o governo tinha planos de encomendar novas cédulas no valor de 5$000. No entanto, como já havia um projeto e a programação para a emissão de moeda no mesmo valor, a encomenda não se justificaria.
Trecho de artigo "Moeda Divisionária" do Jornal do Brasil (RJ) em 9 de novembro de 1935, mencionando o projeto e a cunhagem da moeda de 5$000
O artigo "As Novas Moedas", do dia 4 de janeiro de 1936, publicada no jornal Correio da Manhã, informa sobre o lançamento das moedas previstas pelo Decreto nº 565 de 31 de dezembro de 1935.
Artigo "as novas moedas" do jornal Correio da Manhã em 04 de janeiro de 1936 (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
Complementando a lista dos brasileiros ilustres homenageados no Decreto nº 565, incluem-se as personalidades abaixo:
Joaquim Marques Lisboa (Marques de Tamandaré),
O Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré (1807–1897), cuja efígie foi representada na moeda de 100 réis, é o patrono da Marinha do Brasil. Nascido em Rio Grande (RS), ingressou ainda jovem na Marinha Imperial e destacou-se desde cedo por sua disciplina e espírito de liderança. Comandou embarcações em missões importantes, participou da Guerra da Cisplatina (1825–1828), atuou na repressão a revoltas internas como a Cabanagem e a Balaiada, e teve papel central na Guerra do Paraguai (1864–1870), onde organizou o bloqueio naval que enfraqueceu decisivamente o inimigo.
Seu prestígio cresceu não apenas pelos feitos militares, mas também por sua conduta ética, pelo respeito aos subordinados e pela dedicação à profissionalização da Marinha. Recebeu inúmeras condecorações e títulos ao longo de sua carreira, culminando no título de Marquês de Tamandaré, concedido pelo Imperador D. Pedro II. Homenageado como símbolo de coragem e disciplina naval, Tamandaré foi escolhido como Patrono da Marinha do Brasil, sendo lembrado anualmente no Dia do Marinheiro, em 13 de dezembro, data de seu nascimento. Sua efígie também foi adotada na cédula de Cr$1,00, durante o plano Cruzeiro e circulou entre 1942 ~1958, além de figurar em navios, instituições e monumentos que perpetuam sua memória.
Irineu Evangelista de Sousa (Visconde de Mauá)
Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, cuja efígie foi representada na moeda de 200 réis, nasceu em 1813 em Arroio Grande, então parte da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, atual estado do Rio Grande do Sul. Ele se destacou como um dos maiores empresários do Brasil no século XIX. Proveniente de uma origem humilde, começou sua carreira no comércio e, com uma visão inovadora, expandiu seus negócios para setores como transporte, construção civil e indústria. Em 1854, foi agraciado com o título de Barão de Mauá, sendo elevado a Visconde em 1874, em reconhecimento à sua importância para a economia nacional. Sua maior contribuição foi no setor de transportes, com a construção da Estrada de Ferro de Petrópolis, a primeira ferrovia do Brasil, e também com investimentos em indústrias e navegação.
Apesar de seu sucesso inicial, Mauá enfrentou dificuldades financeiras e políticas. Suas propostas de modernização entraram em choque com as elites conservadoras da época, que não estavam dispostas a apoiar suas inovações. A falta de apoio governamental, somada a decisões arriscadas, levou à desestruturação e venda de grande parte de suas empresas a partir de 1875, marcando o declínio de seu vasto império financeiro, apesar de ele ter sido um dos homens mais ricos do país. No entanto, o legado de Mauá foi preservado e seu nome foi dado a cidades e instituições como símbolo de sua contribuição ao Brasil.
O Visconde de Mauá foi, sem dúvida, um dos maiores visionários do século XIX brasileiro. Sua história, marcada por altos e baixos, reflete a luta de um homem que tentou transformar o Brasil em um país mais industrializado e moderno, antecipando os processos de mudança que se concretizariam no século XX. Hoje, ele é lembrado como um dos grandes ícones do empreendedorismo brasileiro, que, apesar das adversidades, deixou um legado duradouro para o país.
Carlos Gomes
Carlos Gomes, cuja efígie foi representada na moeda de 300 réis, nasceu em 1836 em Campinas, São Paulo, é um dos maiores compositores da música brasileira. Desde jovem, demonstrou grande talento musical, estudando no Rio de Janeiro e, mais tarde, em Milão, onde sua carreira ganhou destaque. Sua ópera mais famosa, "Il Guarany", foi um marco na música brasileira e internacional, sendo aclamada por sua fusão de influências europeias com elementos da música nacional. A obra, inspirada em uma história indígena, solidificou sua fama e o colocou entre os grandes compositores da sua época.
Embora tenha alcançado sucesso na Europa, Gomes sempre manteve sua conexão com o Brasil, refletindo em sua música o patriotismo e a identidade nacional. Suas outras óperas, como "Fosca" e "Maria Tudor", também deixaram sua marca, mas foi com "O Guarani" que ele conseguiu representar simbolicamente a luta pela construção de uma identidade brasileira. Ele incorporou elementos da música popular e indígena em suas composições, o que o tornou um pioneiro na adaptação da música clássica às particularidades culturais do Brasil.
Nos últimos anos de sua vida, Carlos Gomes enfrentou dificuldades financeiras e de saúde, retornando ao Brasil em 1896, mas não recebeu o reconhecimento que esperava. Morreu no mesmo ano, em Belém, sem viver para ver a revalorização de sua obra. Apesar disso, seu legado permanece vivo, com suas composições frequentemente executadas mundialmente. Carlos Gomes é considerado um dos maiores ícones da música clássica brasileira, e sua contribuição à música erudita mundial continua a ser celebrada até hoje. Sua efígie também foi estampada na cédula de CR$ 5.000,00 em 1993 durante o plano Cruzeiro, no período de 1990~1994.
Oswaldo Cruz
Oswaldo Cruz, cuja efígie foi representada na moeda de 400 réis, foi um dos maiores nomes da medicina e da saúde pública no Brasil, destacando-se principalmente pelo seu trabalho no combate a doenças infecciosas como a febre amarela, a peste bubônica e a malária, no início do século XX. Graduado em medicina, ele se tornou um líder na luta contra as epidemias que assolavam o Rio de Janeiro, implementando medidas de saneamento e controle, como o combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da febre amarela, e a realização de campanhas de vacinação.
A sua atuação mais marcante foi à frente da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que ele ajudou a criar e a consolidar como um centro de pesquisa e controle sanitário. As suas ações, embora eficazes no longo prazo, enfrentaram resistência popular, especialmente durante a Revolta da Vacina, em 1904, quando a população se opôs à vacinação obrigatória contra a varíola. Mesmo assim, as medidas sanitárias de Cruz reduziram drasticamente a incidência de doenças como a malária e a febre amarela no Rio de Janeiro.
O legado de Oswaldo Cruz é imenso e internacionalmente reconhecido, tanto por suas contribuições científicas como pela criação de um modelo de controle de doenças que foi referência para outros países. Sua visão e compromisso com a saúde pública transformaram o Brasil em um exemplo de sucesso na luta contra epidemias, e a Fiocruz permanece até hoje como um dos maiores centros de pesquisa biomédica do mundo. Seu nome é sinônimo de inovação, coragem e dedicação à saúde da população. Em reconhecimento ao seu impacto, Oswaldo Cruz foi homenageado na cédula de Cr$ 50.000 emitida em 1984, durante o plano Cruzeiro no período de 1984 ~1990.
Brasileiros ilustres: cujas efígies figuram nas moedas de $100, $200, $300 e $400 a partir do Decreto nº 565 de 1936, da esquerda para a direita, Joaquim Marques Lisboa (Marques de Tamandaré) , Irineu Evangelista de Sousa (Visconde de Mauá), Carlos Gomes e Oswaldo Cruz (Fontes: Galeria dos Ilustres Vol 1, Wikipedia, 2025).
Alberto Santos Dumont
Santos Dumont, cuja efígie foi representada na moeda de 5.000 réis, nasceu em 20 de julho de 1873, em Palmira, atual cidade de Santos Dumont, em Minas Gerais. Filho de Henrique Dumont, próspero fazendeiro e pioneiro no uso de maquinário moderno em lavouras de café, teve contato com tecnologia e mecânica desde cedo, aprendendo a dirigir locomóveis e operar equipamentos da fazenda ainda na adolescência. Em 1891 mudou-se para Paris, onde se dedicou ao estudo da engenharia e da mecânica, imerso no ambiente científico e inovador da capital francesa, e iniciou o desenvolvimento de seus primeiros inventos, criando balões e dirigíveis que conquistaram grande notoriedade, como o Dirigível nº 6, com o qual venceu o Prêmio Deutsch em 1901 ao contornar a Torre Eiffel em menos de 30 minutos. Nesse mesmo ano, destacando-se pela importância de suas realizações, recebeu a Legião de Honra, uma das mais altas condecorações da França e uma homenagem oficial daquele país, sendo promovido a Cavalheiro da Legião de Honra em 1904.
Anos depois, voltou-se ao desafio do voo mais pesado que o ar, em 12 de novembro de 1906, cruzou o campo de Bagatelle, em Paris, voando 220 metros a bordo do seu avião 14-Bis, o primeiro avião equipado com rodas e capaz de decolar, voar e pousar sem ajuda de trilhos ou catapultas de arremesso. Esse feito marcou a história, pois foi o primeiro voo público, documentado e homologado pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), realizado diante de uma multidão de testemunhas.
Reportagem do Jornal "Le Petit" 25 de novembro de 1906. (Fonte: bbc.com, 2025).
O avião 14-Bis tinha 10 metros de comprimento, 4,81 de altura e 11,5 de envergadura. E pesava 240 quilos. Os franceses apelidaram-no de “Oiseau de proie” (“Ave de rapina”).
No ano seguinte, em 1907, Dumont apresentou ao mundo a Demoiselle, a “donzela”, um avião pequeno, leve e prático, considerado o primeiro ultraleve da história e também o primeiro modelo de avião produzido em série no mundo, influenciando diretamente gerações futuras de aeronaves.
Apesar de suas contribuições pioneiras para a humanidade, o final de sua vida foi trágico. Em 1944, veio a público que o brasileiro havia se suicidado em 23 de julho de 1932, em um quarto do Hotel de La Plage, no Guarujá, litoral de São Paulo. Uma das hipóteses levantadas por estudiosos é que Dumont teria entrado em depressão ao perceber que sua invenção, concebida como um instrumento de progresso e integração entre os povos, estava sendo utilizada como arma de destruição na Primeira Guerra Mundial e, posteriormente, na Revolução Constitucionalista de 1932, conflito que se desenrolava justamente quando ele se encontrava no litoral paulista.
Ainda assim, sua visão e engenhosidade permanecem como um marco na história da ciência e da aviação, inspirando inventores, pilotos e sonhadores em todo o mundo. Por Lei nº 5.716, de 19 de outubro de 1971, Alberto Santos Dumont foi oficialmente proclamado Patrono da Força Aérea Brasileira, título posteriormente atualizado pela Lei nº 7.243, de 6 de novembro de 1984, que o consagrou como Patrono da Aeronáutica Brasileira.
Por suas contribuições à aviação, Santos Dumont recebeu diversas honrarias em vida e postumamente. A reportagem "A Glória de Santos Dumont", publicada pelo jornal Correio da Manhã em 2 de janeiro de 1930, exibe duas fotografias: um retrato de Santos Dumont à esquerda e, à direita, a cerimônia em que ele recebeu a condecoração da Legião de Honra.
Brasileiro ilustre: Santos Dumont, cuja efígie figura na moeda de 5$000, é mencionado na reportagem "A Glória de Santos Dumont", publicada no jornal Correio da Manhã em 2 de janeiro de 1930 (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025).
Santos Dumont também se destacou como escritor. Em 1904, publicou em francês o primeiro volume de sua autobiografia, Dans L’air, lançado no Brasil em 1938 sob o título Os Meus Balões. Quatorze anos depois, lançou o segundo volume, O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos (1918). Em 4 de junho de 1931, foi eleito imortal como o segundo ocupante da cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo Graça Aranha, embora não tenha chegado a tomar posse.
Entre todos os brasileiros ilustres, Santos Dumont é possivelmente aquele cuja memória foi mais homenageada no campo da numismática por meio de moedas, cédulas e medalhas comemorativas.
Além de ter sua efígie representada na moeda de
5.000 réis, Santos Dumont recebeu diversas medalhas, tanto estrangeiras quanto brasileiras. Entre as francesas, destacam-se a
medalha de bronze de Santos Dumont, criada pelo medalhista Raoul Lamourdedieu, com o busto voltado para a esquerda (
Confira aqui), e a
medalha de prata, com relevo de seu dirigível sobrevoando a Torre Eiffel (
Confira aqui).
A reportagem "Santos Dumont recebeu uma magnífica medalha de ouro", publicada no jornal Correio da Manhã em 11 de junho de 1930, informa sobre mais uma homenagem prestada a Santos Dumont pelo conferência organizada pela Federação Aeronautica Internacional (FAI) em Paris na França: Neste evento ele recebeu pessoalmente uma medalha de ouro criada por Lamourdedieu, cujo anverso apresenta sua figura segurando um motor. O artigo também menciona que uma versão da medalha, em prata, foi entregue tanto ao presidente do Brasil quanto ao prefeito do Distrito Federal. Essa homenagem já havia sido anunciada durante a visita de Henrique de La Vaulx (conde de La Vaulx) ao Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1930.

Trecho da reportagem "Santos Dumont recebeu uma magnífica medalha de ouro" mostrando homenagem a Santos Dumont na França, jornal Correio da Manhã em 11 de junho de 1930.(Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025)
Em memória de seu legado, no Brasil, durante as comemorações da Semana da Asa de 1951, foram produzidas medalhas em homenagem aos 50 anos do contorno da Torre Eiffel, com a efígie de Santos Dumont (conferir
aqui). Posteriormente durante o governo de Juscelino Kubitscheck foi lançada a Medalha do Mérito Santos-Dumont (conferir
aqui), por meio do
Decreto nº 39.905, de 5 de setembro de 1956, (em prata e bronze) para reconhecer personalidades que se destacam no desenvolvimento da aviação no país. Nesse mesmo ano, em 16 de outubro de 1956, o governo de Minas Gerais, estado natal de Santos Dumont, também criou a Medalha Santos Dumont (confira
aqui), pela
Lei nº 1.493, (em ouro , prata e bronze) para galardoar o mérito de pessoas e entidades que se destaquem pela contribuição ao desenvolvimento e progresso da aviação brasileira.
Além disso, em celebração ao centenário do voo do 14-Bis no ano de 2006, a Casa da Moeda emitiu uma moeda comemorativa em prata (não circulante) com o valor facial de R$ 2,00, dois reais (Confira
aqui). Mais recentemente, em 2023, por ocasião do Sesquicentenário de Santos Dumont (150 anos de seu nascimento), a Casa da Moeda lançou a Medalha Comemorativa do Sesquicentenário de Santos Dumont tanto em prata como bronze (confira
aqui), celebrando sua memória e legado na história da aviação mundial.
Além de medalhas e moedas Santos Dumont foi homenageado na cédula de
10 000 Cruzeiros durante o plano cruzeiro no período de (1966 ~ 1975).
Moedas emitidas a partir do Decreto-Lei nº 565 de 31 de dezembro de 1935.
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 20,0 mm
Massa: 5,50 g
Espessura: 1,80 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: A efígie do Almirante Marquês de Tamandaré, olhando para frente, conhecido como fundador da Força Naval Brasileira, de frente, com a inscrição TAMAN (ao lado esquerdo da barba) e DARÉ (Ao lado direito da barba), horizontalmente traçada. Em baixo dessa inscrição, à esquerda, a sigla CB do gravador Calmon Barreto.
Reverso: Ao centro, uma âncora enlaçada por uma corrente presa ao arganéu. No campo, à esquerda, o valor 100 e, à direita, a palavra Réis, ambas em posições verticais. Acompanhando a orla ao lado esquerdo no alto um aberesco e ao lado direito no alto data. No alto a inscrição do Brasil. Em baixo, à esquerda, abaixo da ancora, a sigla WT do gravador Walter Toledo.
Siglas:
Curiosidade, Detalhe do arabesco.
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 23,0 mm
Massa: 6,00 g
Espessura: 1,80 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Orla: No anverso denticulada, no reverso em relevo.
Anverso: O busto do Visconde de Mauá, de frente, dividindo em duas partes a inscrição horizontal MA UÁ. Sob as duas últimas letras, a sigla CL do gravador Leopoldo de Campos. Circunda a composição um listel denticulado.
Reverso: Entre pontos, uma locomotiva sobre trilhos, acompanhando a olla em cima a inscrição BRASIL sobreposta à data. No exergo, o valor 200 sobreposto à abreviatura Rs e, sob o para-choque da máquina, à direita, a sigla CL do gravador Leopoldo Campos.
Siglas:
Nota: A Sigla CL do gravador Leopoldo Campus apresentada no reverso desta amostra fotografada esta um pouco desgastada.
Moeda de 300 Réis 1936
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 25,0 mm
Massa: 8,00 g
Espessura: 2,00 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Anverso: A efígie de Carlos Gomes, olhando para para a direita, lado esquerdo do observador, separando a palavra CARLOS, à esquerda, da palavra GOMES à direita, ambas escritas horizontalmente. Sob a última, a sigla CL do gravador Leopoldo Campos.
Reverso: Uma lira com sete cordas, acompanhando a orla em cima a inscrição BRASIL, sobreposta à data. No campo, à esquerda, o valor 300 e, à direita, a palavra RÉIS escritas em sentido curvilínio-vertical. No exergo, ao lado esquerdo a sigla CL do gravador Leopoldo Campos.
Siglas:
Nota:
1- A Sigla CL do gravador Leopoldo Campus apresentada no reverso desta amostra fotografada é bastante difícil de ser observada.
2-Segundo Vergara, em grande parte das moedas de 300 réis de 1938 não é possível verificar a sigla nos reversos. Experimentei verificar as amostras que possuo e constatei o mesmo. Assim como na moeda de 1936, a sigla da moeda de 1937 também é bastante difícil de ser observada, enquanto que na de 1938 ela simplesmente não aparece, confirmando o que foi relatado por Vergara.
Nas fotografias abaixo, próximas à região onde a sigla deveria estar, observa-se que, na amostra de 1938 à direita, a impressão da lira aparece bastante fraca, com relevo muito baixo em comparação com a moeda de 1937, à esquerda.
Mesmo realçando as imagens não consegui encontrar traços da sigla na amostra de 1938.
Moeda de 400 Réis 1936
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 28,0 mm
Massa: 10,00 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: liso
Eixo: Reverso Medalha
Orla: No anverso denticulada, no reverso em relevo.
Anverso: Efígie de Oswaldo Cruz tendo à esquerda a palavra OSWALDO, em duas linhas soprepostas (OSWAL embaixo DO e, à direita, a palavra CRUZ. Sob a palavra CRUZ, a sigla CB do gravador Calmon Barreto.
Reverso: Entre dois filetes, uma lâmpada acesa, encimada acompanhando a orla a inscrição circular BRASIL sobreposta à data. No exergo, entre dois pontos, 400 RÉIS, seguido pela sigla WT do gravador Walter Toledo.
Siglas:

Moeda de 500 réis 1936
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 2% Zn).
Diâmetro: 22,5 mm
Massa: 5,00 g
Espessura: 1,8 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: Em relevo no anverso e no reverso.
ANVERSO: No centro, o busto do Regente do Brasil, Diogo Antônio Feijó, levemente voltado para a direita (lado esquerdo do observador), estendendo-se até o exergo. Na orla superior, da esquerda para a direita, lê-se a inscrição "REGENTE FEIJÓ", com um ponto ao lado superior direito da letra “O”. As letras “TE” de "REGENTE" ficam parcialmente cobertas pela cabeça do busto. No exergo, à direita, sobre a vestimenta, encontra-se a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho.
REVERSO: No centro, uma coluna coríntia sobre um traço horizontal. À esquerda da coluna, o valor 500, e à direita, a palavra "RÉIS", ambas em posição horizontal. No alto, a inscrição "BRASIL" acompanha a orla, entre dois traços. No exergo, a data seguida da sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo. Tanto a data quanto a sigla estão sobre um fundo com traços verticais.

Nota: A sigla CB, do gravador Calmon Barreto, e a sigla WT, do gravador Walter Toledo, são apresentadas de forma diferente nas moedas de 500 réis nas eras de 1935 e 1936.
Moeda de 1000 réis 1936
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 2% Zn).
Diâmetro: 24,5 mm
Massa: 7,00 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: Em relevo no anverso e no reverso.
ANVERSO: A cabeça do Padre Anchieta de perfil apontando para a sua direita, lado esquerdo do observador. À esquerda, em sentido vertical, a inscrição ANCHIETA tudo em fundo quadriculado. No exergo, à esquerda da gola do hábito, a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho.
REVERSO: No centro, um livro aberto com suas escritas ilegíveis. em cima do livro a data. Acompanha a orla, na parte superior, o valor 1.000 RÉIS entre dois sinais de hifens. No exergo, a inscrição do BRASIL com efeito, letras menores na extremidade, e letras maiores no centro. Ào lado esquerdo no alto da letra B a sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo.
Siglas:
1- A sigla CB, do gravador Calmon Barreto, e a sigla WT, do gravador Walter Toledo, são apresentadas de forma diferente nas moedas de 1000 réis nas eras de 1935 e 1936.
2-A sigla CB do gravador Calmon Barreto aparece duplicada nesta amostra fotografada.
3- Considerando o diâmetro menor das moedas de 1000 réis de 1936, 1937 e 1938, no mercado numismático, essas moedas são frequentemente mencionadas como cunhadas em módulo menor, enquanto a moeda de 1000 réis de 1935 é referida como cunhada em módulo maior. (Essa designação, relacionada ao módulo, também é frequentemente associada às moedas de 1 Cruzeiro de 1956).
4- O Catálogo online
Moedas do Brasil, menciona uma moeda de 1000 réis de 1938 com bordo poligonal, provavelmente falsa, considerando o Art. 3º do Decreto nº 565 (diferente do caso da moeda de 2000 réis de 1938, abordado mais adiante no texto).
Moeda de 2000 réis 1936
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 2% Zn)
Diâmetro: 26,5 mm
Massa: 9,00 g
Espessura: 2,35 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: No anverso denticulada, no reverso em relevo.
ANVERSO: Cabeça do Duque de Caxias de perfil, apontando para a sua esquerda, lado direito do observador com o seu característico chapéu bicorne (chapéu armado estilo napoleonico), No centro vertical, à esquerda uma coroa ducal. e a à direita a palavra CAXIAS escrita na vertical em três linhas (CA-XI-AS). As duas primeiras sílabas da palavra Caxias estão separadas por um traço. Embaixo da última sílaba, a sigla do gravador CL do gravador Leopoldo Alves Campos.
REVERSO: No centro vertical, com o copo fechado (proteção da mão) do lado esquerdo, o punho de uma espada voltada para baixo. No interior do copo, o 2 do valor 2.000 que está separado dos três zeros parcialmente sobrepostos inscritos ao lado direito do punho. Em cima destes, a data e embaixo, a palavra réis abreviada RS. Em cima, acompanhando a orla, a palavra BRASIL entre duas pequenas faixas. Abaixo do número 2, a sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo.

Siglas:
Moeda de 5000 réis 1936
Material: Prata Liga do Material (60% Ag, 40% Cu ).
Diâmetro: 27,5 mm
Massa: 10,00 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Medalha
Orla: Em relevo no anverso e no reverso.
ANVERSO: No centro, o busto de Santos Dumont de perfil voltado para sua direita, lado esquerdo do observador. À esquerda do busto a palavra SANTOS e, à direita, DUMONT, ambas em sentido vertical. No exergo, à esquerda a sigla CB do gravador Calmon Barreto de Sá Carvalho.
REVERSO: No centro, uma asa (de ave) aberta da direita para a esquerda, no sentido horizontal atravessando a moeda. À esquerda abaixo da asa, a data em sentido horizontal. Acompanha a orla, na parte superior, a inscrição do BRASIL. Embaixo da asa o valor 5.000, em linha horizontal e em três tamanhos diferentes. No exergo, a palavra RÉIS entre dois pontos. Embaixo de réis, a sigla WT do gravador Walter Rodrigues Toledo.
A triste realidade social e educacional do Brasil em 1936
O Brasil de 1936 ainda vivia uma dura realidade social marcada pela desigualdade e pela exclusão educacional. Desde o Segundo Reinado, os números já revelavam o enorme abismo no acesso à educação. Em 1872, durante o reinado de Dom Pedro II, o país registrava cerca de 82,3% de analfabetos entre a população com mais de cinco anos de idade, conforme os dados do primeiro Censo Demográfico.
Nota: Apesar dos notáveis esforços pessoais de D. Pedro II em incentivar a educação e expandir a rede escolar durante seu reinado (1840-1889), o impacto na redução da taxa geral de analfabetismo foi mínimo, mantendo o país com altos índices com cerca de 82% em 1890, devido às barreiras estruturais, como a escravidão e a descentralização do ensino.
Meio século depois, o cenário pouco havia mudado: segundo as análises de demógrafos como Alceu Ravanello Ferraro (História Inacabada do Analfabetismo no Brasil, 2009), a tendência secular de queda do analfabetismo era lenta, e o censo de 1920 registrou uma taxa de aproximadamente 71,2% entre os brasileiros com mais de cinco anos, o que correspondia a mais de 12 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever.
Embora o país tivesse passado por alguns avanços no campo da educação desde o Império, e mesmo com os esforços de modernização durante o governo de Getúlio Vargas, o acesso ao ensino continuava restrito às camadas mais favorecidas da sociedade. A educação era vista quase como um privilégio, e não como um direito de todos.
De acordo com o censo do IBGE de 1940, e nas detalhadas análises de Giorgio Mortara (Alfabetização e Instrução no Distrito Federal/Município de São Paulo, 1945), cerca de 13,5 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais eram analfabetos, um número alarmante que representava a maioria da população adulta (aproximadamente 56% deste grupo etário).
Mortara, estatístico fundamental na fundação do IBGE, destacava em seus estudos as grandes diferenças de alfabetismo entre grupos de cor e gerações, evidenciando a profundidade da exclusão social. Essa falta de instrução refletia diretamente na vida cotidiana das pessoas, dificultando não apenas o acesso a melhores oportunidades de trabalho, mas também algo tão básico quanto o uso do dinheiro.
Nessa época, as moedas de 1.000 réis e 2.000 réis causavam grande confusão entre a população. Muitos cidadãos, especialmente os analfabetos, não conseguiam distinguir facilmente os valores gravados nas peças, o que resultava em constantes erros e prejuízos em transações simples. Além disso, algumas moedas de bronze e de níquel apresentavam tamanhos e cores muito semelhantes.
A alfabetização, símbolo de cidadania e inclusão, permanecia distante da realidade de grande parte da população, um reflexo amargo de um Brasil que ainda estava aprendendo a se reconhecer como nação.
No artigo “Os Desenhos das Moedas”, publicado na seção Diversas Notas do Jornal do Brasil (RJ) em 1º de setembro de 1936, o colaborador Sr. J. B. de Moraes Rego apresenta críticas aos cunhos produzidos pela Casa da Moeda. Entre suas observações, destacam-se os desenhos, o posicionamento das inscrições e dos numerais, bem como as características físicas das moedas.
Na reportagem "Moedas Dúvidosas", do jornal Correio da Manhã, publicada em 26 de dezembro de 1936, é apresentada a confusão gerada no comércio pela moeda de 2$000, lançada em bronze-alumínio, em relação a outras moedas semelhantes, como a de 1$000.
Reportagem "Moeda Duvidosa" mostrando a confusão gerada pela moeda de 2$000 lançada em bronze alumínio no comércio, jornal Correio da Manhã em 26 de dezembro 1936. (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025).
Para amenizar parte destes problemas, O
Decreto-Lei nº 695, de 15 de setembro de 1938 manda cunhar o saldo de 8.000 contos de réis da moeda de
2.000 réis (Duque de Caxias) modificando o bordo para poligonal, para evitar confusões nas transações comerciais por serem as moedas de 2.000 réis semelhantes às de
1.000 réis em circulação, e já cunhadas a partir de 1922. Essa mudança visava diferenciá-la das moedas de 1.000 réis, facilitando o reconhecimento tátil e visual, um recurso essencial para a população não alfabetizada.
Do Decreto-Lei nº 695:
CONSIDERANDO que, para complemento da cunhagem das moedas de bronze-alumínio, do valor de 2$000, autorizada pelo Decreto n. 565, de 31 de dezembro de 1935, falta ainda cunhar a importância de 8.000:000$000 representada por 4.000.000 de moedas;
CONSIDERANDO, porem, que o aspecto de tais moedas, dada a semelhança com as do 2$000, do mesmo metal, cunhadas em virtude dos Decretos ns. 15.620, 15.936, 16.409, 21.258 e 24.257, de, respectivamente, 19 de agosto de 1922, 24 de janeiro de 1923, 12 de março de 1924, 4 de maio de 1932 e 16 do maio de 1934, vem dando margem a grandes confusões e a constantes reclamações do comércio o do público em geral,
Novamente observamos outras moedas de réis circulando no mesmo período que serão abordadas posteriormente.
Art. 1º Fica o Ministro da Fazenda autorizado a mandar cunhar o saldo de 8.000:000$000 (oito mil contos de réis) de moedas divisionárias de 2$000, a que se refere o Decreto n. 565, de 31 de dezembro de 1935, obedecendo ás características nele estabelecidas, exceto na parte relativa a orla, que dever á ser poligonal regular, do 24 (vinte e quatro) lados ou faces lisos, em substituição a serrilha determinada no art. 3º do citado Decreto n. 565.
Variante da Moeda de 2000 réis 1938 com as mesmas características no anverso e reverso e bordos diferentes
A esquerda o bordo serrilhado e a direita o bordo poligonal:
Anverso:
Bordo (mencionado como Orla pelo Decreto-Lei nº 695):
Nota: Novamente o Catálogo online
Moedas do Brasil, menciona uma moeda de 2000 réis de 1937 com bordo poligonal. Essa moeda também é provavelmente, falsa, assim como a de 1.000 réis de 1938 já citada anteriormente. O
Decreto-Lei nº 695, que só foi emitido em
15 de setembro de 1938, determinava expressamente que apenas a moeda de 2.000 réis teria bordo poligonal. O que torna impossível a existência legítima de uma peça com essas características datada de 1937. Essa suposta moeda também
foi estudada e desacreditada por Vergara.
Cunhagem de moedas a partir do Decreto-Lei nº 24.257 e do Decreto-Lei nº 565
*Baixa Tiragem
*Tiragem incluindo as eras de 1936 e 1937.
*Tiragem incluindo moedas com Bordo serrilhado e poligonal.
Moedas lançadas Durante o período do Estado Novo
Artigo único. Fica o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda autorizado a mandar cunhar, na Casa da Moeda, com os mesmos diâmetros, pesos, composição e motivos estabelecidos no decreto número 565, de 31 de dezembro de 1935, a importância de mil e quinhentos contos de réis (1.500:000$000) de moedas de níquel dos valores de $100, $200, $300 e $400; revogadas as disposições em contrário.
O DECRETO-LEI Nº 849, DE 9 DE NOVEMBRO DE 1938 Autoriza o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de dez mil contos de réis (10.000:000$000, o equivalente a 10 mil conto de réis ou 10 bilhões de réis) em moedas divisionárias de "cupro-níquel".
Art. 1º Fica o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda autorizado a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de dez mil contos de réis (10.000:000$000) em moedas divisionárias de cupro-níquel, dos valores de $400, $300, $200 e $100.
Art. 2º A cunhagem da importância mencionada no artigo anterior terá início imediatamente, devendo as respectivas peças conter o valor, peso, diâmetro, título e composição constantes do quadro seguinte:
Tolerância
Para mais ou para menos
Metal | Valor | Peso | Diâmetro | Composição | No peso | Na composição |
| Rs. | Grs. | Milímetros | Milésimos | Gramas | Milésimos |
Cupro | $400 | 5,500 | 23 | | 0,100 | |
| $300 | 4,500 | 21 | 750 cupro | 0,100 | 10 |
Niquel | $200 | 3,500 | 19 | 250 niquel | 0,070 | 10 |
| $100 | 2,500 | 17 | | 0,070 | |
Art. 3º O contorno das moedas obedecerá a uma, linha sinuosa regular, acompanhando a sua circunferência.
Art. 4º Salvo mútuo consentimento entre as partes interessadas, o poder liberatório das moedas mandadas cunhar por este decreto-lei é o seguinte:
$400 até ......................... 8$000
$300 até ......................... 6$000
$200 até ......................... 4$000
$100 até ......................... 2$000
Art. 5º Nas faces de todas as moedas cunhadas na conformidade deste decreto-lei, serão estampadas composições comemorativas do primeiro aniversário da Constituição de 10 de novembro de 1937, observadas as instruções que, para esse fim, forem expedidas pelo Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda.
Nota: Segundo o art. 5º, essas moedas deveriam ser produzidas com composições temáticas comemorativas ao primeiro aniversário da Constituição de 10 de novembro de 1937, mas acabaram sendo cunhadas com a efígie do Presidente Getúlio Vargas.
Moedas Cunhadas a partir do Decreto-Lei nº 848, Decreto-Lei nº 849.
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 17,0 mm
Massa: 2,50 g
Espessura: 1,50 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS. Gravador: Leopoldo Alves Campos
Reverso: No centro, o valor 100 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara. Gravador: Orlando Moutinho Maia.
Nota: Amostra com sinais de desgaste no reverso.
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 19,0 mm
Massa: 3,50 g
Espessura: 1,50 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS. Gravador: Leopoldo Alves Campos
Reverso: No centro, o valor 200 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara. Gravador: Benedito de Araújo Ribeiro.

Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 21,0 mm
Massa: 4,50 g
Espessura: 1,70 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS. Gravador: Leopoldo Alves Campos.
Reverso: No centro, o valor 300 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara. Gravador: Benedito de Araújo Ribeiro.
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 75%, Ni 25%)
Diâmetro: 23,0 mm
Massa: 5,50 g
Espessura: 1,90 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS. Gravador: Leopoldo Alves Campos.
Reverso: No centro, o valor 400 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara. Gravador: Orlando Moutinho Maia
Bordos:
Vergara ainda menciona que de acordo com Edgard de Araújo Romero a autoria dos cunhos das moedas do Estado para 1940 foram:
100 réis Anverso: Leopoldo Alves Campos Reverso: Orlando Moutinho Maia
200 réis Anverso: Leopoldo Alves Campos Reverso: Basilio Francisco Nunes
300 réis Anverso: Leopoldo Alves Campos Reverso: Benedito de Araújo Ribeiro
400 réis Anverso: Leopoldo Alves Campos Reverso: Walfrides Bruno Trinida
O DECRETO-LEI Nº 1.538, DE 24 DE AGOSTO DE 1939 Autoriza a cunhagem de moedas auxiliares e divisionárias de 2$0, 1$0 e $5, de bronze alumínio, até a importância de vinte mil contos de réis (20.000:000$0), e dá outras providências. Art. 1º Fica o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda autorizado a mandar cunhar, na Casa da Moeda, até a importância de vinte mil contos de réis (20.000:000$0) em moedas auxiliares e divisionárias de 2$0, 1$0 e $5, de bronze-aluminio, para facilidade de trocos e substituição de seu equivalente em papel-moeda dilacerado.
Art. 2º A cunhagem das moedas autorizada no artigo anterior será iniciada desde logo, devendo as respectivas peças conter o valor, titulo, peso, diâmetro e composição, constantes do quadro abaixo:
| | Tolerância para mais ou para menos |
| Metal | Valor ___ Réis | Peso __ Grs. | Diâmetro __ Mms. | Título e composição ___Milésimos | No peso ____ Grs. | No título e na composição ___ Milésimos |
| Bronze de aluminio. | 2$0 1$0 $5 | 9,000 7,000 5,000 | 26,5 24,5 22,5 | 900 Cu 80 Al 20 Zn | 0,450 0,350 0,250 | 20 10 10 |
Art. 3º A orla das moedas de 2$0 será poligonal regular, de 24 lados ou faces, lisos, na forma do Decreto n. 695. de 15 de setembro de 1938, e a das de 1$0 e $5, serrilhada, de acordo com o Decreto n. 565, de 31 de dezembro de 1935.
Art. 4º As cédulas dilaceradas trocadas pelas moedas, cuja cunhagem é autorizada por este decreto-lei, serão recolhidas à caixa de Amortização e incineradas.
Art. 5º Salvo mútuo consentimento entre as partes interessadas. o poder liberatório das moedas mandadas cunhar pelo presente decreto-lei é o seguinte :
2$0 até 50$0
1$0 até 25$0
$5 até 10$0
Art. 6º Os desenhos estampados nas faces das moedas em apreço serão :
2. 000 réis
No anverso - A efígie de Floriano Peixoto, de frente, circundada pela inscrição "Floriano Peixoto"; as eras de "1839" e "1939" a esquerda, sobposta à mesma inscrição, e abaixo da era "1939" a sigla do gravador Orlando Maia.
No reverso - Ao centro. o valor disposto horizontalmente num retângulo aparente com o algarismo inicial abrangendo toda a sua altura, seguido de um ponto e da palavra "Réis" sobposta aos zeros. Em cima do valor, a palavra "Brasil" colocada em arco de circulo. e em baixo, a era "1939" em sentido horizontal. Circunda esses dizeres um ornamento marajoara. A moeda é rematada por um listel liso.
1.000 réis
No anverso - O busto de Tobias Barreto, a 3/4 à direita, tendo a sua destra a inscrição vertical "Tobias" terminada na sua base pelas eras "1839-1939", paralelas em sentido horizontal. Do lado esquerdo do busto, a palavra "Barreto", também vertical, tendo ao lado de sua base a sigla do gravador Benedito Ribeiro.
No reverso - Ao centro, o valor disposto horizontalmente num retângulo aparente com o algarismo inicial abrangendo toda a sua altura, seguido de um ponto e a palavra "Réis" sobposta aos zeros. Em cima do valor, a palavra "Brasil" colocada em arco de círculo, e em baixo, a era "1939", em sentido horizontal. Circunda esses dizeres um ornamento marajoara. A moeda é rematada por um listel liso.
500 réis
No anverso - O busto de Machado de Assis, a 3/4 á esquerda. circundado pela inscrição "Machado de Assis" superpondo as eras "1839-1939", a direita e á esquerda, respectivamente. A sigla do garavador Benedito Ribeiro será colocada ao lado da era "1939".
No reverso - Ao centro, circundado por um ornamento em estilo marajoara, o valor disposto horizontalmente em duas linhas superpostas. Em cima do valor, a palavra "Brasil" colocada em arco de circulo, e em baixo, a era "1939". Um listel liso rematará a moeda.
As personalidades destacadas na segunda emissão da série “Brasileiros Ilustres” são:
Joaquim Maria Machado de Assis
Machado de Assis (21 de junho de 1839 – 29 de setembro de 1908), cuja efígie foi representada na moeda de 500 réis, nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, e é considerado o maior escritor da literatura brasileira. Fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, é autor de obras-primas como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899), que exploram com ironia e profundidade a alma humana e as contradições sociais de seu tempo. Durante grande parte de sua vida profissional, trabalhou na Rua Primeiro de Março, no centro do Rio de Janeiro, onde funcionavam repartições públicas e tipografias ligadas à imprensa e ao meio literário da época. Embora não tenha recebido prêmios em vida, foi amplamente homenageado após sua morte, seu nome batiza escolas, ruas e instituições culturais, e o Prêmio Machado de Assis, criado pela Academia Brasileira de Letras, é uma das maiores distinções literárias do país. Sua efígie também foi estampada na cédula de Cz$ 1000,00 em 1987 durante o plano Cruzado, no período de 1987~1990 (circulando também no plano Cruzado Novo com carimbo de 1 Cruzado Novo).
Tobias Barreto
Tobias Barreto (1839–1889), cuja efígie foi representada na moeda de 1.000 réis, foi um importante filósofo, jurista, poeta e crítico literário brasileiro, nascido na Vila de Campos do Rio Real, hoje cidade de Tobias Barreto, em Sergipe. Autodidata e de pensamento inovador, destacou-se como um dos principais representantes da Escola do Recife, movimento intelectual que renovou o pensamento filosófico e jurídico do país no século XIX, introduzindo ideias do evolucionismo, da filosofia alemã (germanofilia) e de correntes que criticavam o positivismo dogmático. Como professor e escritor, buscou romper com o conservadorismo de seu tempo, defendendo a liberdade de pensamento e a modernização do ensino e da cultura. Tobias Barreto também se dedicou à poesia e à crítica literária, sendo autor de obras como Menores e Loucos (1879, sobre direito criminal) e Estudos de Filosofia e Crítica (1879). Sua atuação influenciou gerações de intelectuais brasileiros e contribuiu decisivamente para a formação de uma identidade filosófica nacional.
Floriano Vieira Peixoto
Floriano Peixoto (1839–1895), cuja efígie foi representada na moeda de 2000 réis foi o segundo presidente do Brasil e uma das figuras mais marcantes do início da República. Nascido em Maceió, Alagoas, ingressou ainda jovem na carreira militar, destacando-se por sua disciplina, firmeza e dedicação ao Exército. Formou-se na Escola Militar do Rio de Janeiro e participou de importantes campanhas, como a Guerra do Paraguai (1864–1870), onde consolidou sua reputação como oficial competente e leal.
Após a Proclamação da República em 1889, Floriano tornou-se vice-presidente na chapa de Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do novo regime. Quando Deodoro renunciou em 1891, Floriano assumiu o poder em meio a grande instabilidade política, econômica e social. Seu governo (1891–1894) ficou conhecido como o “Governo de Ferro”, devido à sua postura autoritária e à maneira enérgica com que reprimiu revoltas que ameaçavam a jovem República.
Entre os principais conflitos enfrentados estavam a Revolta da Armada (no Rio de Janeiro) e a Revolução Federalista (no Rio Grande do Sul). Floriano atuou com mão firme, utilizando as forças militares para restabelecer a ordem e garantir a continuidade do regime republicano. Sua rigidez e determinação lhe renderam o apelido de “Marechal de Ferro”.
Apesar de suas medidas autoritárias, Floriano Peixoto é lembrado por consolidar o novo regime, fortalecendo as instituições republicanas em um momento crítico da história nacional. Ganhou grande prestígio popular, especialmente entre militares e setores urbanos, sendo visto por muitos como o verdadeiro defensor da República. Floriano Peixoto faleceu em 29 de junho de 1895, no Rio de Janeiro. Sua figura permanece associada à transição turbulenta entre o Império e a República. Sua efígie também foi estampada na cédula de Cr$ 100,00 em 1970 durante o plano Cruzeiro, no período de 1970~1987.
As moedas de mil-réis de 1939 foram emitidas em comemoração ao centenário de nascimento de Machado de Assis, Tobias Barreto e Floriano Peixoto, destacando suas contribuições para a literatura, a filosofia e a política nacional.
Brasileiros ilustres: cujas efígies foram utilizadas para estampar as moedas de 500$, 1000$ e 2000$, da esquerda para a direita, Machado de Assis, Tobias Barreto e Floriano Peixoto (Fonte: Wikipedia, 2025).
Nota: Nas fotografias do século XIX e início do século XX, figuras negras, como Machado de Assis, eram frequentemente retratadas com a pele mais clara. Isso resultava não apenas das limitações das emulsões (camadas químicas sensíveis à luz que formam a imagem), mas também de escolhas conscientes de iluminação, como o uso de luz direta ou flash (pó de magnésio) que podia estourar ou clarear os tons de pele mais escuros, retoques (feitos diretamente no negativo com tintas e raspagens para suavizar a textura dos cabelos e diminuir as saliências faciais e dos lábios) e poses que atenuavam traços africanos. Essas práticas refletiam o ideal de embranquecimento vigente na sociedade brasileira, que associava a brancura à educação, prestígio e respeitabilidade social.
A reportagem do jornal Correio Paulistano, de 9 de maio de 1941, menciona o valor de 20 mil contos de réis destinado à emissão de moedas com as efígies de figuras ilustres, estampadas nos valores de 500 réis, 1.000 réis e 2.000 réis, conforme o Decreto-Lei nº 1.538.
Reportagem mencionando cunhagem de moedas de $500 1$000 e 2$000 réis, do jornal Correio Paulistano de 9 de maio de 1941 (Fonte: memoria.bn.gov.br, 2025).
Moedas Cunhadas a partir do DECRETO-LEI Nº 1.538
Moeda de 500 Réis 1939
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 2% Zn)
Diâmetro: 22,5 mm
Massa: 5 g
Espessura: 1,8 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro o Busto de Machado de Assis utilizando um ósculo do tipo Pince-nez (do francês pincer, que significa "pinçar", e nez, "nariz"). Contornando a Orla na parte superior o nome do escritor, As letras “o” e “de” não aparecem por completo. À esquerda a data 1839 referente ao ano do seu nascimento e à direita, 1939 em linha curva vertical. Embaixo do 9 de 1939 a sigla BAR do gravador Benedito de Araújo Ribeiro.
Reverso: No centro, o valor 500 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.
Siglas no Anverso:
Nota: Olhando para esta sigla, da impressão que o gravador utilizou na sigla os acrônimos B A e RB.
Moeda de 1000 Réis 1939
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 2% Zn)
Diâmetro: 24,5 mm
Massa: 7 g
Espessura: 2,10 mm
Bordo: serrilhado
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: Busto de Tobias Barreto olhando para sua esquerda, lado direito do observador. Seu nome é escrito em linhas verticais à esquerda TOBIAS e à direita, BARRETO. Na base de TOBIAS, em duas linhas, as datas 1839 (referente ao ano do seu nascimento) e 1939. A esquerda da letra “O” de Barreto, a sigla BAR do gravador Benedito de Araújo Ribeiro.
Reverso: No centro, o valor 1000, abaixo dos três zeros, o ponto do milhar e a inscrição RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo do valor, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.

Siglas no Anverso:
Nota: A Sigla BAR que aparece no Anverso da moeda de 1000 réis é diferente da que aparece no anverso da moeda de 500 réis. Nesta sigla o R aparece mais destacado.
Moeda de 2000 Réis 1939
Material: Bronze Alumínio (Liga do material 90% Cu, 8% Al, 2% Zn)
Diâmetro: 26,5 mm
Massa: 9 g
Espessura: 2,35 mm
Bordo: poligonal
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: Busto do Marechal Floriano Peixoto olhando para frente. Na orla, da esquerda para a direta o nome Floriano Peixoto. O último “o” de Floriano é cortado pela efígie. À esquerda, a data 1839 (referente ao ano do seu nascimento) , e, à direita, 1939, ambas em linhas curvas verticais. Entre o ombro direito e o 9 de 1939 a sigla OM do gravador Orlando Moutinho Maia.
Reverso: No centro, o valor 2000, abaixo dos três zeros, o ponto do milhar e a inscrição RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo do valor, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.
Sigla no Anverso:
O DECRETO-LEI Nº 2.305, DE 13 DE JUNHO DE 1940 Autoriza o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de dez mil contos de réis (10.000:000$0) em moedas divisionárias de "cupro-níquel". Art. 1º Fica o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda autorizado a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de dez mil contos de réis (10.000:000$0) em moedas divisionárias de "cupro-niquel", dos valores de $4, $3, $2 e $1.
Art. 2º As moedas mencionadas no artigo anterior deverão conter o valor, peso, diâmetro, título e composição constantes do quadro seguinte:
Tolerância
Valor Peso Diâmetro Composição Para mais ou para menos
Metal Rs. Grs. Milímetros Milésimos No peso Na composição
Gramas Milésimos
$4 5,500 23 0,100
Cupro- $3 4,500 21 (750 cupro 0,100 10
niquel
$2 3,500 19 (250 niquel 0,070 10
$1 2,500 17 0,070
O DECRETO-LEI Nº 3.249, DE 8 DE MAIO DE 1941: è igual ao Decreto-Lei nº 1.538.
Nota: O Decreto-Lei nº 3.249, autorizava nova cunhagem para as moedas de $500, 1$000 e 2$000, porém elas só foram emitidas com a era de 1939.
O DECRETO-LEI Nº 4.020, DE 15 DE JANEIRO DE 1942 Autorizou o Ministério de Estado dos Negócios da Fazenda a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de 30.000:000$0 em moedas auxiliares e divisionárias e dá outras providências.
Art. 1º Fica o Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda autorizado a mandar cunhar na Casa da Moeda a importância de réis 30.000:000$0 (trinta mil contos de réis), em moedas auxiliares e divisionárias, sendo: 20.000:000$0 (vinte mil contos de réis) em bronze de alumínio e 10.000:000$0 (dez mil contos de réis) em cuproniquel, para facilidade de trocos e substituição de seu equivalente em papel-moeda dilacerado.
Art. 2º A cunhagem da importância referida no artigo anterior terá inicio imediatamente, devendo as respectivas peças conter o valor, peso, diâmetro, título e composição constantes do quadro seguinte:
Metal | Valor | Peso | Diâmetro | Composição | Tolerância p/ mais ou menos |
Réis | Gramas | Milímet. | Milésimos | No peso gramas | Na compos. milésimos |
Cupro Níquel | 400 300 200 100 | 5.500 4.500 3.500 2.500 | 23 21 19 17 | 750 cobre 250 níquel | 0.100 0.100 0.070 0.070 | 10 10 |
Bronze Alumínio | 2.000 1.000 500 | 9.000 7.000 5.000 | 26.5 24.5 22.5 | 900 Cu 80 Al 20 Zn | 0.450 0.350 0.250 | 20 10 10 |
Art. 3º Nas faces das moedas de cupro-níquel e bronze de alumínio cunhadas na conformidade deste decreto-lei, serão estampados os mesmos motivos e desenhos, constantes das cunhadas de acordo com o decreto-lei n. 849, de 9 de novembro de 1938 e decreto-lei n. 3.249, de 8 de maio de 1941, respectivamente.
Nota: Até onde se sabe apesar Decreto-Lei nº 4.020, autorizar uma nova cunhagem de novas moedas de de $100, $200, $300 e $400, não existem moedas, com a era de 1942 cunhadas nessa composição em cuproníquel visto que em maio do mesmo ano o Decreto-Lei nº 4.299 viria alterar a composição destas moedas. E novamente não foram cunhadas moedas de $500, $1000 e $2000 réis com esta data.
Variante nas moedas durante o período do Estado Novo
O DECRETO-LEI Nº 4.299, DE 15 DE MAIO DE 1942 Altera a composição e a tolerância da liga das moedas de $100, $200, $300 e $400.
Art. 1º Fica alterada a composição e a tolerância da liga de cupro-niquel das moedas dos valores de $100, $200, $300 e $400, mandadas cunhar pelo decreto-lei n. 4.020, de 15 de janeiro de 1942, como segue:
Composição - 880 de cobre
- 120 de niquel
Tolerância par amais ou para menos - 20 milésimos - no niquel.
Nota: A composição de cuproníquel alterou de Cu 75%, Ni 25%, para Cu 88% e Ni 12%. mantendo uma aparência roseada (Cuproníquel rosa).
Moedas Cunhadas a partir do Decreto-Lei nº 4.299 (Cuproníquel Rosa)
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 88%, Ni 12%)
Diâmetro: 17,0 mm
Massa: 2,50 g
Espessura: 1,50 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS.
Reverso: No centro, o valor 100 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.

Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 88%, Ni 12%)
Diâmetro: 19,0 mm
Massa: 3,50 g
Espessura: 1,50 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS.
Reverso: No centro, o valor 200 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.

Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 88%, Ni 12%)
Diâmetro: 21,0 mm
Massa: 4,50 g
Espessura: 1,70 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS.
Reverso: No centro, o valor 300 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.
Material: Cuproníquel (liga do material: Cu 88%, Ni 12%)
Diâmetro: 23,0 mm
Massa: 5,50 g
Espessura: 1,90 mm
Bordo: Sinuoso
Eixo: Reverso Moeda
Anverso: No centro, o busto com a efígie do presidente Getúlio Vargas voltado para sua direita (lado esquerdo do observador). À esquerda do busto, acompanhando a orla, está a palavra GETÚLIO e, à direita, a palavra VARGAS.
Reverso: No centro, o valor 400 com a palavra RÉIS em baixo. Em cima do valor a palavra BRASIL, em linha curva. Embaixo da palavra RÉIS, a data. Acompanha toda a orla um largo ornamento estilo marajoara.
Bordos:
Curiosidade:
Os ornamentos em estilo marajoara apresentados nas moedas referentes aos Decretos-Lei nº 849, nº 1.538 e nº 4.299 podem ser observados em cerâmicas, como mostrado na fotografia abaixo.
Urna cerâmica Marajoara da Cid Collection apresentado decoração pintada com volutas e motivos geométricos (foto MAE-USP). (Fonte: Eduardo Góes Neves, 2021).
As atuais moedas de 1 real, que podem ser conferidas na série de moedas apresentadas no artigo
Moedas do Plano Real, também foram inspiradas na arte marajoara. No anel dourado dessas moedas, há referências às raízes étnicas brasileiras, representadas pelo grafismo encontrado nas cerâmicas indígenas de origem marajoara.
Cunhagem de Moedas referente aos Decreto-Lei nº 848 (e nº 849), DECRETO-LEI Nº 1.538 e Decreto-Lei nº 4.299
Outros Temas numismáticos da Era Vargas
A Revolução de 1932 a Campanha do Ouro
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um movimento armado ocorrido no estado de São Paulo entre 9 de julho e 2 de outubro de 1932, e teve como principal objetivo pressionar o governo provisório de Getúlio Vargas a convocar uma Assembleia Constituinte e restabelecer a Constituição no país. Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder de forma provisória, dissolvendo o Congresso Nacional, os partidos políticos e nomeando interventores federais nos estados, o que desagradou as elites paulistas. Em São Paulo, a tensão cresceu especialmente com a nomeação de João Alberto Lins de Barros, um interventor pernambucano, no lugar de um governador paulista.
O descontentamento popular e político culminou em confrontos de rua em maio de 1932, que resultaram na morte de quatro jovens estudantes — Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo — cujas iniciais (M.M.D.C.) se tornaram o símbolo da revolução. Posteriormente, reconheceu-se também Orlando Alvarenga como a quinta vítima do episódio, pois faleceu cerca de um ano depois em decorrência dos ferimentos sofridos durante o mesmo confronto. Poucos meses depois, em 9 de julho de 1932, as forças paulistas se levantaram em armas contra o governo federal.
Inicialmente, houve manifestações de solidariedade a São Paulo em estados como Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, onde parte das elites e guarnições militares simpatizava com a causa constitucionalista. No entanto, o governo de Getúlio Vargas agiu rapidamente para dispersar esses movimentos, utilizando negociações políticas, propaganda e reforço militar, isolando São Paulo e dificultando a expansão da revolta para outras regiões do país.
O governo do estado de São Paulo, liderado pelo interventor Pedro de Toledo, apoiou o movimento e precisou encontrar meios de financiar a guerra, já que o conflito exigia grande quantidade de recursos para sustentar o exército constitucionalista. Com o apoio de empresários, fazendeiros e da própria população, foi organizada uma ampla campanha de arrecadação, que incluiu empréstimos, doações e emissão de bônus de guerra. Um dos episódios mais marcantes desse esforço foi a Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo, lançada em julho de 1932. Os que aderiam à campanha recebiam um certificado com a inscrição "Doei ouro para o bem de São Paulo" ou um anel de metal com esta frase gravada.
Certificado ouro para o bem de São Paulo (Fonte: https://www.migalhas.com.br/quentes, 2025)
Mulheres, homens e crianças de diferentes classes sociais doaram alianças, joias, medalhas religiosas e objetos de ouro e prata para financiar a revolução. O lema da campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, tornou-se símbolo do patriotismo paulista e do engajamento civil na luta pela Constituição. As doações eram registradas e, em troca, os participantes recebiam certificados de patriotismo, o que reforçava o sentimento coletivo de participação na causa.
Conforme o valor doado, muitos cidadãos recebiam anéis confeccionados com o próprio metal arrecadado, gravados com a inscrição “Ouro para o bem de São Paulo – 1932”, como forma de reconhecimento público e orgulho cívico. Esses anéis, produzidos em diferentes modelos e tamanhos, tornaram-se símbolos de honra e devoção à causa constitucionalista, sendo preservados até hoje como relíquias históricas do movimento.
Cartaz incentivando a doação de joias, anéis e outros bens de valor para campanhã do ouro (Fonte: spcity.com.br/, 2025)
Os principais conflitos se concentraram nas fronteiras de São Paulo com os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, pontos estratégicos de defesa e de tentativa de avanço das tropas federais. As cidades de Cunha, Cruzeiro, Piquete, Lorena e Queluz, no Vale do Paraíba, foram palco de intensas batalhas contra as forças vindas de Minas Gerais. No setor sul, os combates ocorreram em Itararé, Buri e Itapeva, regiões-chave de acesso ao Paraná, enquanto no setor norte e noroeste, confrontos se estenderam até Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.
Paulistas em trincheira durante os conflitos da revolução (Fonte: brasilescola.uol.com.br/, 2025)
Apesar da bravura e da organização das tropas paulistas, o movimento enfrentou grandes dificuldades logísticas, escassez de armamentos e o isolamento político após a neutralização dos apoios de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, inicialmente simpáticos à causa. A resistência durou cerca de três meses, de julho a outubro de 1932, até que as forças federais, numericamente superiores e melhor equipadas, cercaram o território paulista e forçaram a rendição em 2 de outubro de 1932.
Contudo, legado da revolução foi significativo: no ano seguinte, Getúlio Vargas convocou eleições para a Assembleia Constituinte de 1933, que resultou na Constituição de 1934, atendendo em parte às reivindicações paulistas. Além disso, os recursos arrecadados durante a Campanha do Ouro foram destinados à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que, com o montante remanescente da campanha, construiu o histórico Edifício Ouro para o Bem de São Paulo. O edifício começou a ser construído na segunda metade da década de 1930 e foi concluído em 1939. Seu projeto arquitetônico foi elaborado pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo, Severo & Villares, com a execução a cargo da Companhia Construtora Camargo & Mesquita. Localiza-se na Rua Álvares Penteado, nº 23, no Centro de São Paulo, onde permanece como um marco histórico da solidariedade paulista durante a Revolução.
Edifício Ouro para o Bem de São Paulo (Fonte: oglobo.globo.com/ , 2025)
Do ponto de vista numismático, a Revolução de 1932 deixou marcas singulares na história monetária brasileira. Um dos primeiros golpes de Getúlio Vargas contra o movimento foi a ordem de fechamento das agências dos bancos federais em São Paulo. As cédulas disponíveis foram inutilizadas, em alguns casos, cortadas e registradas — para impedir seu uso pelos revolucionários.
Sem acesso ao sistema bancário nacional, em 14 de julho de 1932, apenas cinco dias após o início da revolta, o então governador Pedro de Toledo decretou a emissão dos Bônus do Tesouro do Estado de São Paulo Pró-Revolução, títulos com poder liberatório equivalente ao do papel-moeda oficial, que circularam como dinheiro em todo o território paulista.
A emissão foi posteriormente oficializada pelo Decreto nº 5.603, de 23 de julho de 1932, que autorizava o desdobramento dos bônus do Tesouro em valores menores, conhecidos como bônus divisionários, para substituírem as cédulas do Tesouro Nacional. O decreto determinava a emissão de valores de 5$, 10$, 20$, 50$ e 100$ mil-réis, totalizando 32.500:000$000 (trinta e dois mil e quinhentos contos de réis), e previa a prorrogação dos feriados bancários até o dia 28 daquele mês para permitir a impressão e distribuição dessas cédulas emergenciais. (podem ser conferidas aqui e aqui). Paralelamente, medalhas e distintivos foram cunhados para homenagear combatentes e cidadãos engajados na Campanha do Ouro, (conferir aqui).
Em 1935, com a Campanha do Ouro já encerrada, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo aprovou uma proposta do presidente da Sociedade Numismática Brasileira, Dr. Álvaro de Salles Oliveira, para a criação de uma contramarca comemorativa aplicada sobre moedas doadas. O chamado “Carimbo do Capacete” preservou simbolicamente, em metal, a memória da Revolução de 32. As moedas foram vendidas a colecionadores, com renda revertida para causas assistenciais.
O “Carimbo do Capacete” (ou “Carimbo da Campanha do Ouro”) foi um carimbo aplicado em moedas brasileiras como forma de comemorar a revolução constitucionalista paulista. O carimbo, que mostra um capacete, símbolo da revolução, e a inscrição “1932 C.O.” (Campanha do Ouro) está bem documentado. Há controvérsias entre numismatas sobre a quantidade exat
a de moedas carimbadas e as circunstâncias em que foram aplicadas, incluindo possíveis carimbagens feitas após o fim efetivo da revolução. (algumas dessas moedas podem ser conferidas aqui).
As Moedas dos Leprosários
A construção de leprosários no Brasil teve início no final do século XIX e se intensificou nas primeiras décadas do século XX, como parte das políticas públicas de saúde voltadas ao combate à hanseníase, então conhecida como lepra. Na época, a doença era cercada de forte estigma social e medo de contágio, o que levou o governo a adotar medidas de isolamento compulsório dos pacientes. Inspirada em modelos europeus e norte-americanos, essa política visava tanto controlar a disseminação da doença quanto afastar os doentes do convívio social.
O primeiro leprosário brasileiro de modelo colônia foi criado em 1904, no estado do Pará, sob o nome de Leprosário do Prata, nas proximidades de Belém. Nas décadas seguintes, com o avanço das campanhas sanitárias do governo federal e a criação do Serviço Nacional de Lepra (1920), foram construídos diversos outros leprosários em todo o país. Esses estabelecimentos eram geralmente erguidos em áreas afastadas dos centros urbanos, com estruturas autossuficientes que incluíam igrejas, escolas, oficinas, fazendas e até cemitérios próprios.
Entre os principais leprosários brasileiros, destacam-se:
Colônia Santa Isabel, em Betim (MG), inaugurada em 1931;
Colônia Santa Marta, em Goiânia (GO), criada em 1942;
Colônia Itapuã, no Rio Grande do Sul, fundada em 1940;
Colônia Santo Ângelo, em Mairiporã (SP), inaugurada em 1928;
Colônia Aimorés, em Bauru (SP), inaugurada em 1933;
Colônia Pirapitingui, em Itu (SP), criada em 1933;
Colônia Santa Teresa, em Santa Catarina, criada em 1940.
Esses locais funcionavam como verdadeiras “cidades isoladas”, onde os pacientes eram internados de forma compulsória, muitas vezes separados de suas famílias por toda a vida. Médicos, religiosos e funcionários moravam nos próprios complexos, que possuíam regras rígidas e controle estatal. Apesar do caráter humanitário alegado, o isolamento provocou sofrimento psicológico e desestruturação familiar profunda.
Para evitar o risco de contágio da hanseníase por meio do manuseio do dinheiro comum foram criadas as as moedas dos leprosários, também conhecidas como moedas de isolamento ou moedas de colônia.
No início do século XX, acreditava-se que a doença poderia ser transmitida pelo contato com objetos, incluindo as cédulas e moedas em circulação. Assim, o governo brasileiro e as administrações dos leprosários decidiram criar um sistema monetário próprio, utilizado exclusivamente dentro das colônias.
As primeiras emissões surgiram, durante o governo de Getúlio Vargas entre 1930 e 1940, com a criação das Colônias Nacionais de Lepra. Entre os exemplos mais conhecidos estão as moedas da Colônia Santa Teresa, em Santa Catarina, e do Hospício dos Lázaros, no Rio de Janeiro. Nessas instituições, as moedas foram cunhadas em réis, com valores como 100, 200, 300, 400 e 1.000 réis, e utilizadas exclusivamente dentro das dependências para a compra de alimentos, roupas e produtos básicos (confira aqui). As inscrições geralmente traziam o nome da colônia, o valor, refletindo o caráter oficial e restrito dessa circulação.
Essas moedas são hoje raridades históricas, pois representam um período de exclusão social e de políticas sanitárias extremas, mas também de organização estatal em torno da saúde pública. Cada colônia tinha um conjunto específico de valores e inscrições, o que as torna peças valiosas e simbólicas da história brasileira.
A partir da década de 1950, com o surgimento de tratamentos eficazes, como a dapsona, e com o reconhecimento de que a hanseníase tem baixa transmissibilidade, o isolamento compulsório começou a ser gradualmente abandonado e as moedas foram retiradas de circulação. A política foi oficialmente extinta em 1962, embora muitos ex-pacientes tenham continuado a viver nas colônias por falta de alternativa, e a prática só tenha sido definitivamente erradicada por volta de 1986.
Hoje, alguns desses antigos leprosários se transformaram em hospitais dermatológicos, centros de referência ou espaços de memória, como o Museu da Colônia Santa Isabel e o Museu da Santa Marta, preservando a história de exclusão e resistência dos que ali viveram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário